ATA DA DÉCIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 03-6-2003.

 

 


Aos três dias do mês de junho de dois mil e três, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e vinte e um minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear o Dia do Imigrante Italiano, nos termos do Requerimento n° 060/03 (Processo n° 1190/03), de autoria da Mesa Diretora. Compuseram a MESA: o Vereador João Antonio Dib, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Mário Panaro, Cônsul-Geral da Itália; a Senhora Núncia Santoro de Constantino, representante da comunidade de imigrantes italianos; o Desembargador Vilson Darós, Vice-Presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região; o Desembargador Clarindo Favretto, representante do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; o Senhor Adriano Bonaspetti, Presidente da Associação Cultural Italiana do Rio Grande do Sul; a Senhora Carmine Motta, representante do Comitato Degli Italiani All’Estero – COMITES; o Coronel Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul; o Tenente Mohamad Hussein Abbas, representante do 5° Comando do Distrito Naval de Rio Grande; o Vereador Ervino Besson, 3° Secretário da Casa. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem os Hinos Nacionais Brasileiro e Italiano, executados pelo Coral Vivace, sob a regência do maestro João Araújo, registrou a presença, como extensão da Mesa, do Senhor Roque Jacoby, Secretário Estadual da Cultura e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Ervino Besson, em nome das Bancadas do PP, PMDB e PSB, saudou o transcurso, no dia primeiro de julho do corrente, do Dia do Imigrante Italiano, analisando dados estatísticos relativos à presença dos imigrantes italianos no Estado, comentando a experiência pessoal de Sua Excelência como descendente de italianos e destacando a relevância da contribuição prestada por esses imigrantes para o desenvolvimento social e econômico do Estado do Rio Grande do Sul. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou as presenças do Deputado Estadual Ciro Simoni, representante da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, do Senhor Ive Mahe, Cônsul Honorário da França, do Senhor Biagio Sanzi e, após, foi dada continuidade aos pronunciamentos dos Senhores Vereadores. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, externou sua alegria em participar da presente Sessão Solene, em homenagem ao Dia do Imigrante Italiano, comentando dados alusivos às dificuldades enfrentadas pelos imigrantes quando de sua chegada ao Rio Grande do Sul e à riqueza da cultura do povo italiano, expressa através de manifestações como o idioma, a gastronomia e a dança. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome da Bancada do PDT, referiu-se ao transcurso do Dia do Imigrante Italiano, dissertando sobre aspectos históricos alusivos à presença histórica da comunidade italiana no Brasil, em especial no Rio Grande do Sul e referiu-se a personalidades italianas que contribuíram, com seu trabalho e dedicação, para o desenvolvimento do Estado. Na oportunidade, o Senhor Presidente registrou a presença da professora Maria do Carmo de Souza, representante do Senhor José Fortunati, Secretário Estadual da Educação e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Wilton Araújo, em nome da Bancada do PPS, salientou a justeza da homenagem hoje prestada pela Casa ao transcurso do Dia do Imigrante Italiano, abordando dados relativos à presença italiana no Brasil e à importância do trabalho desenvolvido por esses imigrantes para a construção das bases culturais e étnicas sobre as quais está assentado o Estado do Rio Grande do Sul. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, teceu considerações acerca da chegada, instalação e desenvolvimento, no Rio Grande do Sul, das comunidades formadas por imigrantes oriundos da Itália, relatando episódios relativos ao relacionamento pessoal mantido por Sua Excelência com diversos representantes dessa comunidade, inclusive no âmbito de sua família. O Vereador Raul Carrion, em nome da Bancada do PC do B, pronunciou-se sobre os movimentos de imigração italiana ocorridos entre os anos de mil oitocentos e sessenta e nove e mil novecentos e sessenta e dois, contextualizando historicamente as causas sociais e econômicas que motivaram esses movimentos e expressando seu reconhecimento à contribuição desses imigrantes para a formação da sociedade gaúcha. Na oportunidade, o Senhor Presidente registrou a presença do Senhor José Antônio Brizola, representante do Deputado Estadual Vieira da Cunha, do Senhor Adeli Sell, Secretário Municipal da Produção, Indústria e Comércio e, após, concedeu a palavra à Senhora Núncia Santoro de Constantino e ao Senhor Mário Panaro, que destacaram a importância da homenagem hoje prestada pela Câmara Municipal de Porto Alegre ao Dia do Imigrante Italiano. Após, o Coral Vivace, sob a regência do maestro João Araújo, apresentou as músicas “Va Pensiero” e “I Lombardi”. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem o Hino Rio-Grandense, executado pelo Coral Vivace, sob a regência do Maestro João Araújo e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às vinte e uma horas e nove minutos, convidando a todos para coquetel a ser oferecido no Espaço Cultural Teresa Franco e convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador João Antonio Dib e secretariados pelo Vereador Ervino Besson. Do que eu, Ervino Besson, 2° Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene em homenagem ao Dia do Imigrante Italiano, mas também em homenagem à criação da República Italiana em 1946. A República Italiana é um país menor do que o Estado de Minas Gerais, a metade do Estado de Minas Gerais, mas é o país que mais recebe turistas na Europa. O escudo italiano foi escolhido depois da criação da República, é claro, em 1946, e a estrela que está no escudo representa a unidade que, durante muito tempo, não houve na Itália, e a coroa de louro e carvalho representa o republicanismo, e o nome do país aparece na faixa. Compõe a Mesa o Dr. Mário Panaro, Cônsul-Geral da Itália; a Dr.ª Núncia Santoro de Constantino, representante da Comunidade de Imigrantes Italianos; o Des. Vilson Darós, Vice-Presidente do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região; o Des. Clarindo Favretto, representante do Tribunal de Justiça do Estado; o Sr. Adriano Bonaspetti, Presidente da Associação Cultural Italiana do Rio Grande do Sul; a Sr.ª Carmine Motta, representante do Comitato Degli Italiani All’Estero – COMITES.; o Cel. Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul; o Ten. Mohamad Hussein Abbas, representante do 5.º Comando do Distrito Naval de Rio Grande. Convidamos todos os presentes para, ouvirmos em pé os Hinos Nacionais Italiano e Brasileiro, que serão interpretados pelo Coral Vivace, com a regência do Maestro João Araújo.

 

(Apresentação do Coral Vivace, com regência do maestro João Araújo, que interpreta os Hinos Nacionais Brasileiro e Italiano.)

 

Registro a presença do querido Secretário Roque Jacoby. Sinta-se como parte integrante desta Mesa.

No Hino Italiano, perguntava dove è la vitória? Eu penso que a vitória está, exatamente, neste momento extraordinário em que o povo de Porto Alegre, através da síntese democrática dos seus representantes, que são os Vereadores, está homenageando os descendentes e os italianos. E Porto Alegre se sente muito vinculada à história italiana, porque tem como cidade-irmã Morano Calabro e esse Gemelagio foi feito na Administração Guilherme Socias Villela e tem sido cultuado, permanentemente, pelos moradores de Porto Alegre e que tem origem na Calábria. Mas a Calábria, com todos os outros italianos terminam constituindo a unidade do povo italiano. Quando se unificou a Itália, foi dito: está feita a Itália, e agora os italianos? Os italianos estão aqui conosco, ajudaram este Rio Grande a crescer. Eu fui criado em uma cidade de origem eminentemente italiana, que é Caxias do Sul, e sei o quanto o italiano representou e representa para o progresso da nossa Pátria. Mas, melhor do que eu, vai dizer, neste momento da homenagem, o Ver. Ervino Besson, que foi o proponente, através do seu Projeto de Lei, e que agora falará em nome das Bancadas do Partido Progressista, do PMDB e do PSB.

 

O SR. ERVINO BESSON: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quero também registrar a presença do Secretário Roque Jacoby, do Dr. Nilo Quaresma, representando a CEEE; do Sr. Dorvalino Lunardelli, Presidente de um dos clubes mais antigos aqui da Cidade – o Rio-Grandense; da Inês; do Padre Jaime, que está aqui com sua equipe; do Marcelo do grupo musical “Tchê, Barbaridade”; do Dr. Humberto José Scorza, enfim, tantas pessoas que se encontram nesta Casa para homenagear os imigrantes italianos. E destaco aqui, também, com muito carinho, a presença do Major Comandante da 1ª Cia. Ambiental, Flodoaldo Pereira Damasceno, que está aqui representando a nossa querida e gloriosa Brigada Militar.

Falar dos imigrantes italianos, creio que, para qualquer um que usasse este microfone, seria um momento emocionante. Estou vendo aqui e registro a presença do meu querido irmão e amigo Dep. Ciro Simoni, que está aqui representando a Assembléia Legislativa do Estado. Mas teria muitas coisas para se falar hoje aqui, meu caro Cônsul. Trinta por cento, hoje, dos imigrantes italianos ocupam uma parcela da população do nosso Rio Grande. Isso representa aproximadamente três milhões de pessoas. Sessenta e cinco a setenta por cento, hoje, da indústria e do comércio estão nas mãos dos imigrantes italianos. Porto Alegre tem também a sua marca. Vou citar alguns prédios: Prefeitura Municipal, Livraria do Globo, Palácio do Vice-Governador, Igrejas Santa Terezinha, Sagrada Família e São Geraldo e outras tantas obras arquitetônicas que nós temos aqui na nossa Cidade.

Eu poderia falar meia hora, uma hora, um dia, que ainda faltaria tempo. Mas eu, neste momento, vou abandonar os papéis, porque eu vou falar um pouco da minha história, e falando da minha história, automaticamente, eu tenho certeza de que falarei da história de muitos de vocês, dos avós de vocês, dos familiares de vocês.

A maioria, acho que todos vocês, viu aquela novela “Terra Nostra”. A história dessa novela é a história dos meus avós que vieram da Itália. Aí foram se espalhando, por Caxias, Garibaldi, Farroupilha e pelo interior do nosso Rio Grande, a minha família estabeleceu-se em Casca.

Mas vejam, meus caros Vereadores e caros componentes da Mesa, nesta semana, aqui nesta Casa e em outros locais, festeja-se – penso que tem que ser destacada – a Semana Mundial do Meio Ambiente, festejada por aquelas pessoas que conservam o meio ambiente.

Faz-me lembrar da minha avó, da minha família, e da mata nativa que existia naquela época, em grande abundância, e o cuidado que minha avó tinha, a tia Teresa – que está aqui presente -, para com a preservação da mata nativa. O rio Guavirova – Aírton -, aquela água cristalina, que hoje não existe mais, o Guavirova não existe, e a minha avó, o meu falecido pai e mãe se preocupavam com a preservação do nosso meio ambiente. É uma cultura dos italianos. E na naquela época – como já disse – existia tanta mata nativa! Mas nós tínhamos, de berço, trazido da Itália, pela minha avó, a preocupação com a conservação do meio ambiente, e ela dizia: “Meus filhos, a sobrevivência da raça humana depende de nós conservarmos o meio ambiente.”

Eu trouxe para mostrar aos senhores, e todos conhecem esta planta. (Mostra uma pinha.) Esta planta hoje é protegida por Lei. No nosso campo, o dia em que nós cortamos um pinheiro para fazer a roda de um carrinho de lomba, nós recebemos um puxão de orelhas muito forte do pai. E, na época, essa planta existia em grande quantidade. E aqui está a pinha, que dá o pinhão.

E hoje, que tristeza! Não existe mais sequer um pé desta planta naquela região, que foi tão conservada pelos meus avós e pelo falecido pai.

Mas, graças a Deus, hoje ainda temos pessoas que se preocupam com o meio ambiente, como o Major, que faz um trabalho extraordinário – nós temos um contato semanal com o Grupo da Brigada Militar, que é tão preocupado com a conservação do nosso meio ambiente.

Mas, o dia 11 de agosto de 1961, foi o dia marcante da nossa vida, porque foi o dia em que saímos lá do interior, o dia em que nós pisamos nesta Cidade, nesta querida cidade de Porto Alegre, que nos acolheu. Nesse dia, meu pai e minha falecida mãe nos deram um pão e um salame. Mas, vejam vocês, saindo lá do interior, pisando numa cidade como Porto Alegre, com esses prédios, nós fomos na Av. José Bonifácio, 645, ao lado do Pronto Socorro, as ambulâncias à noite... Mas o meu irmão mais velho fugiu de Porto Alegre: “Não fico mais”, e foi embora – olhem, está aí ele. Eu fiquei ainda, mas depois os familiares “entraram na jogada”, e ele retornou a Porto Alegre.

Então, vejam a história de uma família, parecida com o que muitos daqui enfrentaram.

À noite, meu irmão disse: “Tu vai lá e compra um pão.” Ele não falou em português, mas em italiano. “Vá comprar um paneto de pan.” Eu saí da porta, atravessei a José Bonifácio, fui num Mercado do Bom Fim, cheguei numa banca, pedi para o cidadão... A família era alemã, todos foram muito queridos, nos deram um apoio extraordinário, disseram-me: “O que tu queres, meu caro moço?” Respondi no meu dialeto: “Gaví me a pan li.” Ele não sabia e me mostrou algo no balcão, eu olhei e disse: “Mi vui um paneto de pan.” Aí eu entendi, eu estava perdido. Aí me mostrou que só tinha peixe. Lembro que eu olhei, virei as costas e fui embora. “Cadê o pão?”, perguntou meu irmão em italiano. Que pão, coisa nenhuma. Sei que acabamos comendo pão e salame.

Portanto, eu sei que outras pessoas vão falar sobre a Itália e até fiz questão de contar esse episódio porque conheço muitos de vocês que estão aí nas galerias, porque vocês também devem ter tido um passado, não digo igual, mas muito parecido. Estou vendo o pessoal da Comenda, que está nos prestigiando, o grupo de italianos da Comenda, que faz um trabalho junto às comunidades – eu quero saudá-los; Renor Lunardelli, que está representando aquele grupo onde desenvolvemos os eventos daquela comunidade, que também está aqui nos prestigiando. Quero aqui, de uma forma muito carinhosa, em meu nome, em nome da minha família, da minha esposa, do meu filho, da minha nora, da minha neta, saudar cada um de vocês com uma saudação muito carinhosa, muito especial, por tudo o que vocês fizeram e, naturalmente, continuam fazendo para o engrandecimento da nossa Pátria, da nossa Bandeira que está aqui. Do fundo da minha alma, um abraço muito fraterno e muito carinhoso a todos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Registro a presença do Ver. Wilton Araújo.

Saúdo o Deputado Ciro Simoni, que representa, neste momento, a Assembléia Legislativa; o Sr. Ive Mahe, Cônsul Honorário francês; e o italiano mais jovem que há neste Plenário, o Sr. Biagio Sanzi, com oitenta anos, que está ali, firme.

O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra, e falará em nome do PSDB.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente, Sr.ªs Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Meu caro amigo, Ver. Ervino Besson e família, e irmãos, e tanta gente que, ontem, esteve lá na festa, no MARGS. Ontem o meu filho chegou feliz em casa porque tinha encontrado o Biagio Sanzi. Gostaria de registrar, com todo o carinho, a presença – e tenho certeza, Sr. Presidente, de que ele seria extensão desta Mesa - do nosso Secretário de Cultura, Roque Jacoby; também gostaria de registrar a presença do Deputado Ciro Simoni, representante da Assembléia, também de sobrenome inconfundível; também o Presidente do Conselho Municipal de Saúde, Humberto Giusepe Scorza.

Ainda ouço a voz do Caetano Veloso na gravação inesquecível da trilha sonora de “O Quatrilho”, ou, há mais de cem anos, um coral de homens e mulheres, que, durante a sofrida viagem transatlântica de navio, rumo ao desconhecido, diziam: “Mèrica, Mèrica, Mèrica. Cosa sarà questa Mèrica!” Que coisa seria esta América! E chegaram, e foram se instalando no meio da luxuriante floresta virgem da mata Atlântica, e subiram montanhas e desbravaram e, aos poucos, foram plasmando uma sociedade progressista, carregada de valores europeus, especialmente italianos, pela língua, pelas expressões idiomáticas, pelos nomes das cidades, pela culinária, plasmando, inclusive, novos dialetos ricos e musicais. À noite, não poucas vezes, a minha avó, Margarida, tirolesa de origem, ora austríaca, ora italiana, surpreendia meu avô, o seu marido Alberto, com quem tinha-se casado em Montevidéu (conheceram-se no navio que recém atravessara o Atlântico, proveniente do Vêneto (Venecia, prova provada do Renascimento); o meu avô chorava silenciosamente a saudade de sua raiz, de sua pátria, da sua querida Itália. Minha avó, muito mais corajosa e realista, respondia da forma mais estimulante batendo com a mão no abdômen: “Pátria, pátria é dove se mangia!”

A unificação da Itália fez-se às custas de um profundo desemprego, e populações inteiras com fome deixavam a Itália com as promessas do Eldorado e da substituição da mão-de-obra escravista pela iniciativa camponesa, da empresa de família e a colonização imigratória. Que aperto na alma sentiam aqueles serezinhos frágeis, indefesos, vencendo o Atlântico, a intempérie, o inóspito; já na América desconhecida, de dia fazendo descobertas fantásticas, à noite dormindo ao relento. E logo as primeiras casas deram um aspecto gregário, e as primeiras picadas, as primeiras comunicações, as primeiras levas de produção já davam idéia do que seria o nosso futuro. E hoje, já no futuro, é inevitável a comparação. Nosso Estado, metade pampa, metade planura ao sul, até hoje ainda semi-feudal, foi escravista, latifundiário e monocultural (ou só arroz, só pecuária e seus derivados). Mas ao norte foi-se povoando, desenvolvendo e, do agrário, passamos para a agroindústria rapidamente. Como na terra natal, como na longínqua e querida Itália, os italianos viram nosso sul retroceder e o norte do Estado manter-se e crescer em pujança. E da mescla de europeus, especialmente italianos e alemães (entre outras etnias), marcaram a formação de um novo país, um Brasil europeizado de progresso, de riqueza, de auto-suficiência e pela beleza da sua gente. Diferente do norte brasileiro, marcado pela presença do índio autóctone, do negro e do português.

E hoje, um mundo bem menor, esse mundinho, comprova que lá, em nossas origens étnicas, há essa mestiçagem brasileira que ainda muito dará o que falar.

Bendita imigração que aperfeiçoou nossas relações sociais, nossa visão integrada de mundo, nosso processo de humanização institucional!

Bendita imigração que nos impõe a mais desenvolvimentista de todas as idéias! Bendita imigração que nos tem feito a cada dia mais próximos, mais acessíveis, mais autodeterminados!

É a essência da democracia racial e da felicidade social.

É o orgulho correndo nas veias do nosso chão, é a plena sensação de raiz, gosto de água, cheiro de ar, toque de pele, panorama, paraíso construído pelos nossos avós, entre eles, pelo meu avô, que chorava de saudade, mas morreu feliz e aqui. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra pelo PDT.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, Sr.ªs Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) O Ver. Ervino Besson, Presidente, me deferiu a honra - ele poderia tranqüilamente falar pelo PDT, na condição de autor da iniciativa - de poder estar presente nesta tribuna. Saúdo igualmente duas figuras extraordinárias da vida rio-grandense e oriundos dessa extraordinária comunidade de imigrantes italianos: o Sr. Roque Jacoby, Secretário Estadual da Cultura do Rio Grande do Sul, e o meu caro amigo e companheiro Deputado Estadual Ciro Simoni. Ele me deferiu, Ver. Ervino Besson, essa condição, até porque, Sr. Presidente, a nossa Bancada tem cinco integrantes do trabalhismo nesta Casa. Dizem que três são filhos de italianos, até porque os italianos gostam muito, Sr. Cônsul, de política, mas eu digo que são quatro. Primeiro, nós temos aqui o nosso Ver. Ervino Besson; depois o Ver. Humberto Ciulla Goulart, também da comunidade; temos o Ver. João Bosco Granatto Vaz, que está presente, cuja mãe tem raízes na Itália; há um pêlo-duro puro, que é Ver. Nereu D’Avila, e eu, que sou oriundo da comunidade judaica, também filho dos primeiros imigrantes aqui no Brasil; faço parte da primeira geração de imigrantes, Desembargador Darós. Só que eu tive a honra... Quando a Globo imaginou fazer uma novela cujo tema era a saga italiana misturada com um romance com uma judia, nós aqui, no Rio Grande do Sul, fomos precursores, a comunidade dos donos de ristorantes já me chamavam, em vez de Isaac Ainhorn, de Isaac Agnolini, porque eu também integrava essa comunidade. Portanto, está ali o nosso Biagio e outros para confirmar essa condição fortemente enraizada nessa comunidade, até porque há os vínculos, esta extraordinária terra gera tanta integração, que o Rio Grande é um verdadeiro cadinho racial. É extraordinário: eu tenho dois cunhados italianos, um nascido na Itália, em Bologna; tenho um outro cunhado e tenho uma sobrinha que vai casar também, contratada com um italiano. Isso é fruto daquilo que conseguimos produzir de extraordinário neste verdadeiro cadinho racial que é o Estado do Rio Grande do Sul.

Hoje pela manhã, bem cedo, Presidente João Antonio Dib, eu lia uma obra de Tabajara Ruas, e aqui a nossa homenagem, porque não há área do conhecimento, da cultura, da produção, em que não esteja presente a comunidade italiana. A nossa Professora Núncia sabe disso, porque é uma pesquisadora e estudiosa nessa área. Mas, hoje pela manhã, lia, bem cedo, Ver. João Antonio Dib, a obra de Tabajara Ruas, As Armas e os Varões Assinalados, parodiando, Dr. Jacoby, a obra do poeta maior Luís de Camões, e lá ele iniciava referindo dois extraordinários varões, que trouxeram, além da produção, da garra de trabalhar nas entranhas da terra, Sr. Cônsul, também a chama da luta revolucionária e conspirativa. Foram duas figuras extraordinárias e que criaram a nossa história; refiro-me a Giuseppe Garibaldi, o herói de dois mundos, e a Tito Lívio Zambicari, essa extraordinária figura que aportou em Montevidéu e, de lá, veio para o Rio Grande; foi até agrimensor em São Leopoldo e, dali, iniciou sua conspiração e sua luta revolucionária que redundou na Epopéia Farroupilha.

Poderia falar muito mais, mas aonde se vai, nos quase quinhentos Municípios no Rio Grande do Sul, não há um neste Estado que não tenha a presença da marca do imigrante italiano aqui na nossa terra. É Jaguari, São Borja, Santiago, São Vicente; não há área em que não esteja presente a contribuição em todos os ramos, sobretudo no trabalho, na luta de sol a sol e que fizeram a glória e a grandeza deste Estado que é o Rio Grande do Sul.

Portanto, em nome da minha Bancada, do PDT, dos meus colegas Vereadores, a nossa saudação a essa laboriosa comunidade que tanto contribuiu, que tanto deu, cuja história e cujas raízes remontam a uma das mais extraordinárias civilizações, que é a romana. Essa extraordinária civilização, esse extraordinário conhecimento e essa cultura vieram para cá na busca de novos mundos, de novas perspectivas e aqui deram a sua decisiva contribuição para a construção do nosso Estado e do nosso País. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O sexto integrante da Bancada do PDT, Ver. José Fortunati, hoje Secretário de Educação do Estado, se faz representar pela Prof.ª Maria do Carmo de Souza, que é Chefe da Divisão de Porto Alegre.

O Ver. Wilton Araújo está com a palavra e falará em nome do PPS.

 

O SR. WILTON ARAÚJO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e Sr.ªs Vereadoras. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Autoridades que se fazem presentes hoje aqui, certamente porque a comunidade italiana tem não só na sua odisséia de vinda, na sua odisséia de estabelecimento nesta terra, de tantas agruras, no início, tantas dificuldades, que souberam bem transpor, trazendo a tradição dos seus ofícios do antigo mundo, contribuindo, certamente, para que esta terra, a terra do Rio Grande, Porto Alegre, o Brasil tenha a sua marca, tenha o seu registro étnico, importante.

Mas, certamente, eu, na condição de Líder do PPS, e em nome também da Ver.ª Clênia Maranhão, que faz parte da nossa Bancada, não seria totalmente sincero com a minha vontade e com a vontade do nosso Partido, se não registrássemos a grande, a formosa, a maravilhosa raça. Alguns estudiosos já preconizam a inexistência das raças como um futuro bastante promissor, onde a miscigenação possa de tal forma proceder para que não existiriam mais raças, e que esse seria, certamente, no futuro, o fim de todas as discriminações, de todas as coisas que hoje ainda vemos em nosso meio.

É exatamente esta terra que acolhe e que é transformada pela etnia e pelos europeus que, certamente, marcada, faz com que dessa influência e da influência de todas as outras etnias que estão aqui, junto conosco, seja a grande raça, seja, certamente, o grande povo, seja aquele que, certamente, vai estar, no futuro, delineado e marcado como uma nação do futuro, uma grande nação que todos vocês estão construindo junto conosco.

Vi, aqui, e tenho a certeza de que, na minha mistura de etnias - porque tenho tantas que me fazem expor desta forma, mas, certamente, em algum lugar, tem também um italiano -, tem uma raiz italiana, mas quero deixar mais claro e mais marcado que é dessa grande mistura que nós vamos fazer a maior nação do mundo, a nação para a qual está reservado o grande amanhã, que, eu tenho certeza, será o Brasil. Da contribuição, da história, da vontade, da garra e da sinceridade já foi falada. Só que há um traço do italiano, uma característica do italiano que me chama a atenção, que é o pulsar do sangue muito forte, que é o colocar tudo, sempre, nas coisas que faz, não só no gesticular e no falar, mas na atitude, no conquistar. Isso chama-me a atenção no traço, e essa influência que vocês deixam e trazem a todos nós é que faz com que eu me sinta muito bem aqui, Ervino Besson, porque sei do coração que essa gente tem, porque fala, sente e transmite com esse coração. Por isso, venho aqui, também, com uma tarefa - uma tarefa do coração -, que é de citar a Carise Alessandra Besson, porque ela está aqui - filha do Ervino Besson -, e essa homenagem dirige-se, também, do fundo do nosso coração – dele e meu - enfim, para ti. Por um lapso - esses lapsos acontecem quando a gente está na tribuna -, o Ervino Besson esqueceu-se de dizer o nome dela. Ela estava chateadinha ali. Eu vim aqui com a tarefa, não de reparar, mas de citar a sua presença. Eu contava, há pouco - Sr. Presidente, concluindo -, que certa feita, aqui, nesta Casa, numa solenidade importante e com um Projeto que apresentei, da Avenida Cultural Clébio Sória, que a minha mulher tinha-me dado a idéia de fazer – eu era Presidente da Casa –, no dia da inauguração, esqueci-me de citar a minha mulher. Até hoje pago por isso e pago caro. Por isso eu gostaria de marcar o final do meu pronunciamento com este coração, o coração do italiano. O grande coração que vocês nos trazem, a grande marca é ver o mundo através do sentimento, do sentimento forte. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Registro a presença do Ver. Beto Moesch.

O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra e fala pelo seu Partido, o PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Venho à tribuna, em nome do Partido da Frente Liberal, para acrescentar, na medida do possível, o muito que já foi dito em função da relevância da homenagem que hoje aqui se presta. Vim falar do imigrante italiano e de seu significado na vida de Porto Alegre, do Estado e do País. Vejam os senhores que os fatos conspiram a meu favor, facilitam minha tarefa. Falar dos imigrantes italianos na Capital do Estado do Rio Grande do Sul, que é governada por um descendente de italianos, Germano Rigotto; que tem na Presidência da Assembléia Legislativa do Estado o Sr. Wilson Covati, e que tem no seu Tribunal de Justiça o Sr. José Eugênio Tedesco, é quase que redundar no óbvio, eis que está comprovado, da forma mais exemplar possível, o significado e a importância que teve e que tem para a vida do Estado essa leva de imigrantes. Eles, em determinado momento da nossa história, para aqui acorreram, mesclando-se com aqueles que aqui já se encontravam, preparando-se para acolher outros tantos que aqui chegariam, e formaram essa mescla que é a figura do gaúcho, que é a figura do porto-alegrense, desta Porto Alegre criada e constituída pelos açorianos e tanto desenvolvida pelos italianos.

Já foi dito aqui que esta Casa como um verdadeiro sodalício popular é constituída de pessoas de todas as origens, de todas as etnias. É comum verificarmos aqui, e o Ver. Ervino Besson, inspirado proponente desta homenagem, já bem se recorda disso, que a origem dos Vereadores com representação popular é muito díspar, e que raros são aqueles como o Ver. Raul Carrion, que nasceram na cidade de Porto Alegre. A grande maioria veio de outras plagas do Rio Grande; eu vim lá do extremo, da fronteira oeste do Estado, quase no Uruguai, da minha Quaraí. E muito garoto, numa área de predominância de descendentes de portugueses e de espanhóis, lembro do primeiro gringo que conheci e que outro não era senão meu tio José Zanini, que tinha aportado em Quaraí no início da década de 50, mesclando-se com a minha família e iniciando o que seria a invasão italiana que os anos seguintes haveria de propiciar. Lembro-me bem que em 54, depois de uma passagem por Uruguaiana, onde conheci a leva de gringos provindos da rizícola instalada no Município de Uruguaiana, junto à Barragem de São Marcos, quando aqui cheguei em Porto Alegre, fiquei pasmo, pois aquilo que para mim era, até então, uma figura um tanto quanto excepcional, dado o pouco número de italianos que em 50 havia em Quaraí, aqui eu encontrava em toda esquina um descendente. Aquilo, para mim, era a figura do grande Império Romano que, a partir de Roma, havia criado toda uma civilização responsável, inclusive, por ter transferido para o currículo uma matéria que era o nosso suplício, que era o latim, que derivava da velha Roma.

Aqui em Porto Alegre, andando, fui aos poucos conhecendo os Spina, os Meneghetti, os Rimolli, os Rositto, os Brizola, os Runardelli, os Sanci, os Scorda e tantos outros, que transformaram essa figura que era um mito na figura do tio Zanini em algo muito familiar e corriqueiro. Por isso me sinto muito à vontade em poder saudá-los no dia de hoje. A evidência é absoluta a respeito do significado da importância dos italianos na formação política, econômica e social do Estado e também de Porto Alegre, e por isso a iniciativa do Ver. Ervino Besson teria que ser saudada por nós liberais com assento nesta Casa, até porque não desconhecemos que na história do nosso pensamento político as raízes são encontradas na velha Itália.

Assim, Sr. Presidente, prazerosamente cumpro essa responsabilidade. Saúdo os italianos, os “oriundis”, os “natos”, os ítalo-brasileiros, dizendo-lhes com a tranqüilidade de quem, como disse muito bem o nosso querido Ver. Wilton Araújo, no fundo tem um pouquinho de sangue italiano, por essas mesclas que ocorrem neste País. Digo-lhes muito obrigado por terem vindo, e muito obrigado por terem permanecido. Sintam-se todos como o avô do Ver. Cláudio Sebenelo. Sejam felizes nesta terra e continuem a contribuir para que este Brasil diferenciado cada vez mais se transforme nessa multifacetada fisionomia que representa o Brasil de todos nós. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Raul Carrion está com a palavra e falará em nome do Partido Comunista do Brasil.

 

O SR. RAUL CARRION: Sr. Presidente, Sr.ªs Vereadoras e Srs. Vereadores, Exm.º Dr. Mário Panaro, em nome de quem saúdo as demais autoridades e personalidades já nominadas. Prezado Ver. Ervino Besson, que em ótima hora propôs à Mesa dos trabalhos desta Casa a realização deste ato em homenagem aos cento e vinte e oito anos do início da grande imigração italiana para o nosso Estado, que entre 1875 e 1900 nos trouxe mais de duzentos e cinqüenta mil súditos italianos para o Estado.

Apesar de 1875 ser o marco da imigração italiana para o nosso Estado, é preciso dizer que bem antes os italianos deixaram uma marca indelével no nosso Estado. Já foi referida aqui a lembrança de dois grandes italianos: Giuseppe Garibaldi e Tito Zambeccari, mas eu queria citar um terceiro: o grande publicista da Revolução Farroupilha, Rossetti, editor do jornal O Povo, em cujas páginas ficaram registrados os ideais, os combates e a luta dos Farroupilhas.

Essa grande onda imigrantista italiana, que retirou do solo pátrio, entre 1869 e 1962, mais de vinte milhões de italianos, precisa ser situada no contexto histórico de então. A Itália vivia a fase final da sua unificação, concluída em 1870. Lá, os latifúndios do Sul mantinham na miséria milhões de camponeses pobres, sem-terra, assalariados e arrendatários. Ao norte a limitada industrialização era incapaz de absorver os excedentes do campo. As elites italianas começaram a ver na imigração a solução para os seus problemas econômicos internos, e uma forma de distensionar as graves tensões sociais. Ao mesmo tempo, a empreitada permitiria grandes lucros para as empresas de imigração e para as companhias de navegação. Para completar, as remessas de dinheiro dos compatriotas das Américas em muito iria contribuir para o desenvolvimento da Itália. No Brasil, a extinção do tráfico negreiro colocava a questão da substituição da mão-de-obra escrava, e a oligarquia latifundiária e escravista do Brasil, que havia sustentado a sua riqueza durante três séculos em cima da mão-de-obra negra, considerava que aqueles que haviam construído o Brasil eram incapazes para o trabalho livre. E, também, uma visão de branqueamento franqueou as portas para a imigração dos países europeus. A conjunção desses dois fatores impulsionou a grande imigração italiana para o Brasil e para o Rio Grande do Sul. Aqui, os recém chegados tiveram de enfrentar as maiores dificuldades, tendo que instalar-se nos lugares mais distantes e agrestes, pois a colonização alemã já havia ocupado as áreas mais próximas à Capital, sob os olhares distantes, e, de certa forma, omissos, das autoridades italianas.

Nesse sentido eu acho interessante uma citação de uma autoridade diplomática, de 1879, que assim se referia: “Tudo o que os representantes reais podem fazer pelos imigrantes é indicar-lhes os locais de trabalho que precisam de braços, encaminhá-los à benevolência dos empresários e à proteção das autoridades para recebê-los nos hospitais, quando adoecem. Enfim, deixá-los à competência do Estado. E se sua miséria tornar-se turbulenta, expulsá-los com a repatriação.”

Em uma terra escravocrata, que via o trabalho como uma desonra, os colonos italianos vincaram a ideologia do trabalho; em uma terra da pecuária ou da monocultura desenvolveram a policultura; em uma terra de latifúndios semearam a pequena propriedade familiar. Deram uma enorme contribuição para a constituição de uma pátria de homens livres. Aqui, os italianos estiveram desde o início ligados às lutas libertárias, à Revolução Farroupilha, às grandes lutas operárias do final do século XIX. E aqui temos que citar o tipógrafo Colombo Leoni, editor do jornal L’Awenire, de 1892; Giovani Rossi, editor do jornal A Luta, 1894; Giuseppe Ferla, que dirigiu o 1.º Congresso Operário do Rio Grande do Sul, em 1898 e Luis Derivi, prestigiado dirigente da Federação Operária do Rio Grande do Sul.

Por tudo isso, a homenagem sincera do PC d oB aos quase três milhões de descendentes italianos, que tanto engrandeceram e engrandecem o nosso Brasil e o nosso Rio Grande do Sul.

Um dia seremos todos “cidadãos do mundo” - como dizia o grande poeta Maiakovski – “e não mais fronteiras separarão os povos”. Nesse tempo – que espero que não tarde – lembrarão da emigração italiana como um gesto precursor. Um grande abraço de saudação a todos que representam esta grande imigração que tanto contribuiu para o nosso Brasil e para o nosso Rio Grande do Sul. Muito obrigado em nome do Partido Comunista do Brasil. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Deputado Estadual Vieira da Cunha está representado, neste momento, pelo seu assessor Dr. José Antônio Brizola. Registro a presença da Ver.ª Maria Celeste e, com muita satisfação, registramos a presença do Vereador, agora Secretário Municipal de Indústria e Comércio Adeli Sell. Sejam bem-vindos.

A Dr.ª Núncia Santoro de Constantino, representante da comunidade de imigrantes italianos está com a palavra.

 

A SRA. NÚNCIA SANTORO DE CONSTANTINO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Senhoras e senhores membros desta comunidade e, em especial, os dois jovens Luca Motta Blota e Vicente Constantino Kripka. Em primeiro lugar, eu quero agradecer a indicação do meu nome, o que realmente me honra e me emociona. Honra-me porque, de certa forma, é o reconhecimento por um estudo que venho realizando na academia já há alguns anos, e também me emociona porque eu sou parte desta comunidade. Então, nestas ocasiões, lembro-me dos meus, especialmente daqueles que partiram.

Vou falar de Porto Alegre, porque Porto Alegre é mais do que um espaço urbano. Porto Alegre é um lugar, e um lugar tem um significado, porque ele tem história. Os italianos têm uma história nesta Cidade, e é esta relação que proponho lembrar nesta conversa, porque, na verdade, outras relações já foram muito bem lembradas; os italianos como imigrantes do Estado ou até mesmo no País.

Vou começar lembrando que por grandes transformações, passavam, as cidades brasileiras, no século XIX. Em Porto Alegre, pouco a pouco, implantavam-se padrões culturais citadinos, influenciados por modelos europeus. Desejavam-se cenários e personagens que fossem adequados a uma nova imagem urbana, definida como moderna.

Crescera o povoado formado por açorianos. O núcleo urbano logo desenvolvera-se em função do porto fluvial, principal centro exportador de trigo. E já havia marinheiros lígures por aqui, pois eles dominavam a navegação de cabotagem em toda a América do Sul. Tanto estavam em Porto Alegre, que Magnoni batizava sua filha Rafaella em 1826 na igreja matriz.

Pouco tempo depois, haveria intensa agitação na capital da Província. Os farroupilhas ocupavam a Cidade, muitos italianos circulavam pelas nossas estreitas ruas e alguns até ficaram por aqui.

Assim, desde 1840, a presença de italianos aumentava. Francioni, natural de Ancona, batiza quatro filhos. Também batizam os seus filhos, o médico milanês Friziani, o genovês Carlo Favaro, Giácomo de Limoni e Salvatore Sabatoni, dos Estados Pontifícios.

Em 1845, noticia-se falecimentos de italianos residentes na Cidade e faz-se propaganda do comércio de italianos, como é o caso do pioneiro ateliê fotográfico de Masoni.

A importância mercantil da Cidade crescia, e o sistema ferroviário aproximaria os mercados no final do século. Em Porto Alegre, fixou-se o principal centro industrial do Estado, com produção equivalente à de São Paulo.

O transporte coletivo iniciara-se em 1878, introduzidos os bondes com tração animal. A Praça da Matriz fora embelezada com os edifícios da Câmara e do Tribunal de Júri, junto com o Theatro São Pedro.

A Companhia Telefônica, fundada com capitais da Província, inaugurava os serviços, em 1886. Iluminava-se a Cidade com gás, e a rua tornava-se uma extensão da casa mesmo à noite.

Falar em modernidade é apontar formas de pensar e de viver. A Cidade moderna passou a ser entendida pelos seus bulevares, onde foi possível ver e ser visto, onde se desfrutava ambientes como cafés, cinemas e confeitarias. Na área central, estava o principal cenário urbano, por onde transitaram milhares de imigrantes italianos.

Por volta de 1870, bem antes que os contingentes de colonos ocupassem lotes no interior da Província, a presença italiana é reconhecida na Cidade, e algumas pessoas já se destacam, exercendo atividades comerciais ou artísticas. Amoretti tem padaria na Rua Riachuelo; Piccardo tem fábrica e loja de sombrinhas; Cavedagni é músico e empresário de espetáculos líricos; Roberti é diretor de sociedade musical; Grasseli é pintor; Fossati e Pittanti são conhecidos escultores, autores da estátua do Conde de Porto Alegre, primeiro monumento colocado na via publica porto-alegrense. Giuseppe Obino realiza a sua obra de maior expressão, o conjunto alegórico, representando os quatro rios que deságuam no Guaíba, estátuas femininas que rodeavam o desaparecido chafariz da Praça da Matriz e que hoje estão na Praça Dom Sebastião, com alguns narizes e dedos decepados.

A guerra contra o Paraguai oportunizara bons negócios ao nosso comércio. Foi estimular o surgimento de indústrias e fundou-se Associação Comercial, da qual logo farão parte os comerciantes italianos: Florio possui loja de calçados, Gianetto vende chapéus de sol, Blachi e Sesiani vendem tecidos, Ungaretti possui loja de miudezas em geral, e todos estabelecidos na Rua dos Andradas.

Porto Alegre crescera muito. Entre 1872 e 1920, a população quadruplicou, também como conseqüência da imigração urbana, com predominante ingresso, no período, dos contingentes italianos. O Cônsul Brichanteau registra que a Cidade, em 1891, possui “cerca de seis mil habitantes italianos”, o que representava mais de 10% da sua população.

Novas formas para viver em cidades surgiam, a começar pelos passeios nas praças públicas, recém aformoseadas pelos administradores. Estrangeiros iam fundando as suas principais sociedades recreativas; polcas e valsas substituíam os fandangos. Nos primeiros hotéis da Cidade apareciam restaurantes que criavam novos hábitos, oferecendo bebidas e cardápios importados. Antes encontravam-se apenas casas-de-pasto ou tavernas.

Em 1870, só havia um café na Rua Nova. No final do século, eram inúmeros cafés, como o América, o Café Roma, cujos proprietários são Antonello e Viale; os Cafés Guarani e o Colombo, dos irmãos Azzarini; ou ainda o mesmo Café da Fama, na Rua Nova, que fora adquirido por Blengini, antigo companheiro de Garibaldi. No final do século, também as senhoras e senhoritas podiam freqüentar confeitarias, como a Confeitaria da Alfândega, de Francesco Carlucci, saboreando especialidades ao som da orquestra que abrilhantava as tardes porto-alegrenses.

No Centro estava o espaço para as sociabilidades. Muito antes que uma reordenação global da Cidade fosse iniciada, a Rua da Praia já era o nosso principal boulevard.

Mas ainda naquela distante década de 1870, os peninsulares de Porto Alegre já se consideravam mesmo italianos, apesar de ser então recente o “reino d’Itália”. Acompanhavam os feitos do ressurgimento italiano e cultuavam os heróis da pátria de origem, como Garibaldi ou como os grandes da Casa de Savóia. Fundam, em julho de 1877, uma Sociedade que receberia o nome de “Vittorio Emanuelle II”, em homenagem ao rei unificador, mas nomeiam Garibaldi como presidente de honra. Fotografias comprovam a imponência da sede social, na rua Sete de Setembro. Em estilo neoclássico, tem parte da fachada em mármore, sacadas de ferro, nichos com esculturas e alegorias à pátria distante. Como todas as sociedades italianas, foi lacrada durante a II Guerra, sendo sua documentação apreendida e posteriormente perdida, talvez no incêndio da Repartição Central de Polícia. A Vittorio nunca foi reaberta e, nos anos 70, o prédio foi demolido, apesar do que representava para a comunidade italiana. Mas muitas outras agremiações foram fundadas nos diferentes espaços da Cidade. É o caso da “Principessa Elena de Montenegro”, em 1893, que logo teria sua sede própria na Rua João Telles, onde hoje está a Sociedade Italiana do Rio Grande do Sul. Mas o grupo italiano diversificava-se, em decorrência do enorme ingresso de contingentes de imigrantes. Em 1884, o Cônsul Pascale Corte afirma que, entre os “súditos”, estão representadas todas as profissões. Há médicos, farmacêuticos, engenheiros, comerciantes. Há artistas plásticos, fotógrafos, professores de música. Menciona cinzeladores, vendedores ambulantes, donos de botequim, hoteleiros, carpinteiros, carroceiros. Porto Alegre então já apresentava um esboço de modernidade. No final do século são muitas as novidades, seja no vestuário, nas artes, ou no modo de desfrutar a vida. Era até mesmo possível olhar vitrines iluminadas por eletricidade. Em aspectos arquitetônicos houve radicais mudanças, a fisionomia luso-brasileira desaparecia, cedendo espaço para o neoclássico e para o nouveau. Atraídos pelo surto de urbanização, inúmeros arquitetos, escultores e engenheiros provenientes da Itália ingressaram na Cidade e colocaram mãos à obra, nos primeiros templos republicanos. Valiera, os irmãos Tomatis, que realizaram importantes projetos em arte floral ou art nouveau, como é o caso da antiga Farmácia Carvalho; Trebbi, Fortini; Armando Boni, arquiteto construtor do edifício da Livraria do Globo e do Palacinho, onde despacha o Vice-Governador, dentre muitos outros o Veneziano Colfosco, responsável pelo projeto e execução do prédio da Prefeitura Municipal.

No pouco tempo de que disponho não poderia deixar de citar Giuseppe Gaudenzi, responsável pelo tratamento das fachadas da Confeitaria Rocco, prédio que também se encontra em deplorável estado de conservação.

Houve melhoramentos como a construção do novo cais e da estação ferroviária. Elaborou-se o primeiro plano urbanístico que transformaria o Centro na década de 1920.

O passeio na rua iluminada, o lazer no café, a freqüência ao cinema acabavam com os monótonos serões noturnos. As fitas faziam furor nas telas do cine-teatro Éden, do Apolo, do Metrópole, substituindo o cinematógrafo, curiosidade exibida até mesmo nos circos. Degani & Cia., por exemplo, apresentara o Cinematógrafo Parisiense na “praça de touros” que havia, onde depois esteve o grande Teatro Coliseu, dos irmãos Petrelli, também desaparecido. Mas as salas de projeção se multiplicariam, alcançando os mais distantes arrabaldes. Surgiram verdadeiras redes de cinemas pertencentes a italianos. Os Faillacce, os Sirangelo e os Grecco foram proprietários das melhores salas cinematográficas da Cidade.

E os peninsulares continuavam chegando. Entre 1875 e 1914, ingressaram no Rio Grande do Sul entre oitenta e cem mil italianos, representando 60% dos novos imigrantes. Um bom número ficava na Capital.

O Cônsul Corte observou que os imigrantes por aqui poupavam; estava mesmo contente porque gastava pouco com repatriamentos no Consulado Geral do Rio Grande do Sul.

Dirigindo o mesmo consulado em 1892, o Conde Brichanteau dava prioridade às questões financeiras no seu relatório, enfatizando as polpudas remessas de dinheiro enviadas por meridionais de Porto Alegre para a Itália.

De Velutiis tem seu relatório consular publicado em 1908 e descreve as colônias urbanas, comemorando o progresso dos imigrantes. O Cônsul observa que, na liderança do grupo italiano, estão surgindo elementos novos, pequenos comerciantes e pequenos industriais, sérios e empreendedores. Esclarece que há meridionais em grande número, especialmente os calabreses de Morano Calabro.

São principalmente os italianos meridionais que constituem a imigração italiana na Cidade entre 1875 e 1930. Fazem parte de uma pequena burguesia, entendida como classe de transição e trabalham por conta própria em sua oficina ou na sua loja - não se proletarizaram - e apóiam-se no trabalho pessoal do proprietário ou de sua família.

Os relatórios consulares coincidem quanto às suas ocupações, destacando que poucos trabalhavam para patrões e que a condição de imigrante, em geral, se não era excelente, também não era desconfortável.

Quanto ao comércio, percebe-se efetiva concentração dos italianos nos ramos de secos e molhados, alfaiatarias, calçados, carne, agências lotéricas, massas alimentícias, bares e cafés.

Há fortes estabelecimentos comerciais nas ruas centrais, há grandes redes de agências lotéricas ou de açougues, como a demonstrar possibilidades de ascensão social que a Cidade lhes alcançava.

No operariado, a presença passa despercebida, ao contrário do que acontecia em São Paulo. O Cônsul De Velutiis, em 1908, escreveu que poucos trabalhavam para patrões, que os imigrantes demonstravam capacidade de estabelecer-se por conta própria, com oficinas ou com casas de comércio e que, em geral, prosperavam.

Houve uma convergência entre os valores dos imigrantes e aqueles da doutrina que inspirava os nossos governantes. Os italianos buscavam ascensão social através do trabalho e, nesse processo, foram fundamentais as relações familiares. Entre os italianos de Porto Alegre funcionou um sistema informal de relações com base na estrutura familiar e no grupo étnico. A família do tipo extensivo manteve-se, as empresas familiares predominaram entre os imigrantes. Aqui uma maioria trabalhou em paz, desejou e alcançou a inserção social. A Capital do Rio Grande representou uma terra de promissão para milhares de pessoas que atravessaram o oceano. Por bem mais de cento e vinte e oito anos, os italianos vêm auxiliando na construção de um cosmopolitismo à la gaúcha. Importantes agentes de transformação, muito trabalharam e trabalham nesta Cidade que também é sua. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Com a palavra o Sr. Cônsul-Geral da Itália, Dr. Mário Panaro. Mas antes que S. Ex.ª fale, como todos os oradores em geral disseram que tem alguma vinculação com os italianos, o Tenente Mohamad Hussein Abbas e o Ver. João Antonio Dib também têm, pois nossos avós passaram lá, pela Itália Meridional, e, por isso, há alguns italianos parecendo árabes.

 

O SR. MÁRIO PANARO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Um agradecimento especial a esta Câmara de Vereadores, que nos honra com uma Lei que introduz o Dia do Imigrante Italiano em Porto Alegre, uma outra festa que enriquece nosso calendário, vinte e quatro horas de distância de outra festa da República da Itália, que celebramos ontem no MARGS, nesse cenário surreal, onde a arte se juntou à música para uma jóia maior. É uma Lei que representa uma peça de grande valor em um esforço de valorizar parcerias entre autoridades locais e a comunidade italiana em todas as suas expressões.

Permitam-me lembrar, em primeiro lugar, com muita emoção, os colonos italianos que souberam abrir os caminhos no Estado para permitir aos demais que chegaram depois transitar nesta terra e passar aos outros Estados desta Federação.

A história dos cento e vinte e oito anos da imigração já foi contada em inúmeros livros de inúmeras formas, no entanto, enfoques mais específicos sempre podem ser dados sobre as marcas que os imigrantes italianos deixaram na nossa cultura gaúcha e, acima de tudo, sobre a principal característica da imigração no Rio Grande do Sul, que é a grande síntese étnico-cultural que ela ensejou. A imigração italiana no Rio Grande do Sul criou um novo mundo, diferente do italiano, diferente do brasileiro; ao mesmo tempo brasileiro e italiano, um mundo ítalo-gaúcho que se expressa na paisagem econômica, civil, arquitetônica e cultural do Rio Grande do Sul, contribuindo para fazer deste o Estado mais europeu do Brasil e para temperar a miscigenação brasileira com sabores sulistas. Um mundo ítalo-gaúcho, que se manifesta também com o seu estilo de vida, suas tradições, suas festas, onde os ingredientes das culturas misturam-se. Unimos fé e tradicionalismo, coisas importantes para os gaúchos que pretendem manter vivas as tradições e os costumes para as futuras gerações.

Disse, há dias passados, o cavaleiro Romário Pacheco, que participou da 10.ª Cavalgada da Fé ao Santuário de N. Sr.ª do Caravaggio, em Farroupilha: “Esse mundo de integração e síntese manifesta-se também na diversidade lingüística que caracteriza o nosso Estado e na variedade da língua portuguesa que aqui é falada, cheia de marcas deixadas por línguas vindas da Península Itálica, entre elas a musicalidade.”

Diversas foram as formas de comemorar esses cento e vinte e oito anos, que têm a música como elemento principal: dia 18 de maio no Salão de Atos da PUC; no espetáculo Italianos na Praça, dia 20; no Palácio Piratini, no mesmo dia; durante um concerto oferecido pela Orquestra da Universidade de Caxias; durante a abertura da mostra fotográfica na discoteca da Casa de Cultura Mário Quintana; na encenação da chegada dos italianos, essa linda festa no Cais do Porto, sábado passado; dia 1.º de junho com uma apresentação do grupo teatral Miseri Coloni, no auditório Dante Barone da Assembléia Legislativa. Ao final, uma celebração da data nacional da Itália com esse grupo que tocou música medieval. Outros eventos foram duas mostras de fotografia e uma de escultura, uma também sobre genealogia, seminários, ciclo de palestras sobre história e cinema italiano, para tocar todas as cordas da fantasia e da energia criativa porque, estamos convencidos que esse encontro da cultura italiana, com sua criatividade, espírito empresarial, capacidade de diálogo, alegria de viver, com a cultura gaúcha, que expressa o mundo dos pampas, dos espaços abertos, da defesa da autonomia, foi capaz de criar uma nova cultura, multifacetada, que lembra um pouco as pedras duras das quais nosso Rio Grande do Sul é tão rico e que deve sempre ser alimentada e, se possível, melhorada.

Os ítalo-gaúchos souberam valorizar esse encontro e essa síntese cultural, não deixando espaços para extremismos singularistas, culturais ou étnicos. A história e a cultura dos imigrantes italianos e de seus descendentes transformaram-se na propriedade de toda a comunidade local, regional e nacional.

Você, Sr. Presidente, fez uma pergunta ao começo desta nossa Sessão Solene: Dove è la vitória? Lembrando um pouco o Hino Nacional da Itália, essa frase que está no meio do Hino, então vou tratar de dar uma primeira possível resposta a essa pergunta:

Dove è la vitória?

A vitória, para mim, na verdade, é ter sido Gulliver, sendo Liliput; ter feito um esforço muito grande para que nossa comunidade pudesse abrir outras portas, porque, acho que, para mim, a primeira descoberta, ao chegar ao Rio Grande do Sul, foi, na verdade, essa surpresa de ver que já muitas portas estavam abertas. Essa capacidade de poder encontrar outros projetos, outras iniciativas, foi minha contribuição para que essa história dos colonos que lutaram - como nos lembrou o Ver. Ervino Besson quando contava a história de São Leopoldo e das estradas que não tinham asfalto, que só eram trilhas, que só eram pistas. Então, esse esforço maior merecia um esforço também muito especial e, por isso, acho que valeu a pena engajar-se nessa grande tarefa de criar iniciativas, criar impulsos para que, nos próximos meses, possamos ter outra matéria nobre para podermos trabalhar juntos, as autoridades do Estado que me honraram ontem com essa carta que confirmou toda a boa intuição que eu tive, em novembro passado, quando achei que, talvez, uma semana cultural poderia ser o melhor complemento para comemorar esses cento e vinte e oito anos da chegada dos italianos. Então, dove è la vitória? A vitória está, agora, nessa mistura de jóia e de saudade, porque chegamos ao final de uma aventura e, como a saudade não tem remédio – parece que ainda não descobriram um tratamento –, acho que a melhor resposta contra essa doença muito típica brasileira é seguir trabalhando para que as outras comemorações possam contar com mais eventos, mais trabalhos e mais contribuições para nossos imigrantes, para o povo gaúcho e para os que nos estão observando na Itália, com muito interesse e muita curiosidade. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Dove è la vitoria? Foi a pergunta que eu formulei e, agora, o Sr. Cônsul, gentilmente, responde-me, mas eu, também, havia dito que a vitória estava na homenagem que a Casa do Povo de Porto Alegre presta a todos os descendentes de italianos e aos italianos pelos relevantes serviços prestados à nossa Pátria. É tão verdade que este Palácio, que se chama Aloísio Filho, leva o nome do Vereador, que eu acho extraordinário, e que, no dia em que eu assumi a Presidência, eu disse que procuraria espelhar-me nele. Tive o prazer e a honra de ser seu amigo e sou feliz, porque este Palácio chama-se Palácio Aloísio Filho.

Convidamos todos os presentes a ouvir a execução das canções “Va Pensiero”, “I Lombardi” e, após, o Hino Rio-Grandense, que serão interpretados pelo Coral Vivace, ao qual, antecipadamente, agradecemos por sua excelente apresentação.

 

(Assiste-se à apresentação.) (Palmas.)

 

Na pessoa do ilustre Cônsul-Geral da Itália, agradecemos pela presença de todas as autoridades presentes ou representadas. Na pessoa do Biagio Sanzi, nós agradecemos pela presença de todos os senhores e solicito que, de pé, ouçamos o Hino Rio-Grandense cantado pelo Coral Vivace.

Após, o Ver. Ervino Besson convida para uma confraternização. A todos, um muito obrigado. Saúde e Paz!

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

A todos, um muito obrigado. Saúde e Paz!

 

(Encerra-se a Sessão às 21h09min.)

 

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