ATA DA DÉCIMA PRIMEIRA
SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA
LEGISLATURA, EM 03-6-2003.
Aos três dias do mês de
junho de dois mil e três, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio
Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e vinte e
um minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou
abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear o Dia do
Imigrante Italiano, nos termos do Requerimento n° 060/03 (Processo n° 1190/03),
de autoria da Mesa Diretora. Compuseram a MESA: o Vereador João Antonio Dib,
Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Mário Panaro,
Cônsul-Geral da Itália; a Senhora Núncia Santoro de Constantino, representante
da comunidade de imigrantes italianos; o Desembargador Vilson Darós,
Vice-Presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região; o Desembargador
Clarindo Favretto, representante do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande
do Sul; o Senhor Adriano Bonaspetti, Presidente da Associação Cultural Italiana
do Rio Grande do Sul; a Senhora Carmine Motta, representante do Comitato Degli
Italiani All’Estero – COMITES; o Coronel Irani Siqueira, representante do
Comando Militar do Sul; o Tenente Mohamad Hussein Abbas, representante do 5°
Comando do Distrito Naval de Rio Grande; o Vereador Ervino Besson, 3° Secretário
da Casa. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem os
Hinos Nacionais Brasileiro e Italiano, executados pelo Coral Vivace, sob a
regência do maestro João Araújo, registrou a presença, como extensão da Mesa,
do Senhor Roque Jacoby, Secretário Estadual da Cultura e, após, concedeu a palavra
aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Ervino Besson, em nome
das Bancadas do PP, PMDB e PSB, saudou o transcurso, no dia primeiro de julho
do corrente, do Dia do Imigrante Italiano, analisando dados estatísticos
relativos à presença dos imigrantes italianos no Estado, comentando a
experiência pessoal de Sua Excelência como descendente de italianos e
destacando a relevância da contribuição prestada por esses imigrantes para o
desenvolvimento social e econômico do Estado do Rio Grande do Sul. Na ocasião,
o Senhor Presidente registrou as presenças do Deputado Estadual Ciro Simoni,
representante da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, do
Senhor Ive Mahe, Cônsul Honorário da França, do Senhor Biagio Sanzi e, após,
foi dada continuidade aos pronunciamentos dos Senhores Vereadores. O Vereador
Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, externou sua alegria em
participar da presente Sessão Solene, em homenagem ao Dia do Imigrante
Italiano, comentando dados alusivos às dificuldades enfrentadas pelos imigrantes
quando de sua chegada ao Rio Grande do Sul e à riqueza da cultura do povo
italiano, expressa através de manifestações como o idioma, a gastronomia e a
dança. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome da Bancada do PDT, referiu-se ao
transcurso do Dia do Imigrante Italiano, dissertando sobre aspectos históricos
alusivos à presença histórica da comunidade italiana no Brasil, em especial no
Rio Grande do Sul e referiu-se a personalidades italianas que contribuíram, com
seu trabalho e dedicação, para o desenvolvimento do Estado. Na oportunidade, o
Senhor Presidente registrou a presença da professora Maria do Carmo de Souza,
representante do Senhor José Fortunati, Secretário Estadual da Educação e,
após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador
Wilton Araújo, em nome da Bancada do PPS, salientou a justeza da homenagem hoje
prestada pela Casa ao transcurso do Dia do Imigrante Italiano, abordando dados
relativos à presença italiana no Brasil e à importância do trabalho
desenvolvido por esses imigrantes para a construção das bases culturais e étnicas
sobre as quais está assentado o Estado do Rio Grande do Sul. O Vereador
Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, teceu considerações acerca da
chegada, instalação e desenvolvimento, no Rio Grande do Sul, das comunidades
formadas por imigrantes oriundos da Itália, relatando episódios relativos ao
relacionamento pessoal mantido por Sua Excelência com diversos representantes
dessa comunidade, inclusive no âmbito de sua família. O Vereador Raul Carrion,
em nome da Bancada do PC do B, pronunciou-se sobre os movimentos de imigração
italiana ocorridos entre os anos de mil oitocentos e sessenta e nove e mil
novecentos e sessenta e dois, contextualizando historicamente as causas sociais
e econômicas que motivaram esses movimentos e expressando seu reconhecimento à
contribuição desses imigrantes para a formação da sociedade gaúcha. Na
oportunidade, o Senhor Presidente registrou a presença do Senhor José Antônio
Brizola, representante do Deputado Estadual Vieira da Cunha, do Senhor Adeli
Sell, Secretário Municipal da Produção, Indústria e Comércio e, após, concedeu
a palavra à Senhora Núncia Santoro de Constantino e ao Senhor Mário Panaro, que
destacaram a importância da homenagem hoje prestada pela Câmara Municipal de
Porto Alegre ao Dia do Imigrante Italiano. Após, o Coral Vivace, sob a regência
do maestro João Araújo, apresentou as músicas “Va Pensiero” e “I Lombardi”. A
seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem o Hino
Rio-Grandense, executado pelo Coral Vivace, sob a regência do Maestro João Araújo
e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou
encerrados os trabalhos às vinte e uma horas e nove minutos, convidando a todos
para coquetel a ser oferecido no Espaço Cultural Teresa Franco e convocando os
Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os
trabalhos foram presididos pelo Vereador João Antonio Dib e secretariados pelo
Vereador Ervino Besson. Do que eu, Ervino Besson, 2° Secretário, determinei
fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será
assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Estão abertos os trabalhos da presente
Sessão Solene em homenagem ao Dia do Imigrante Italiano, mas também em
homenagem à criação da República Italiana em 1946. A República Italiana é um
país menor do que o Estado de Minas Gerais, a metade do Estado de Minas Gerais,
mas é o país que mais recebe turistas na Europa. O escudo italiano foi
escolhido depois da criação da República, é claro, em 1946, e a estrela que
está no escudo representa a unidade que, durante muito tempo, não houve na
Itália, e a coroa de louro e carvalho representa o republicanismo, e o nome do
país aparece na faixa. Compõe a Mesa o Dr. Mário Panaro, Cônsul-Geral da
Itália; a Dr.ª Núncia Santoro de Constantino, representante da Comunidade de
Imigrantes Italianos; o Des. Vilson Darós, Vice-Presidente do Tribunal Regional
Federal da 4.ª Região; o Des. Clarindo Favretto, representante do Tribunal de
Justiça do Estado; o Sr. Adriano Bonaspetti, Presidente da Associação Cultural
Italiana do Rio Grande do Sul; a Sr.ª Carmine Motta, representante do Comitato
Degli Italiani All’Estero – COMITES.; o Cel. Irani Siqueira, representante do
Comando Militar do Sul; o Ten. Mohamad Hussein Abbas, representante do 5.º
Comando do Distrito Naval de Rio Grande. Convidamos todos os presentes para,
ouvirmos em pé os Hinos Nacionais Italiano e Brasileiro, que serão
interpretados pelo Coral Vivace, com a regência do Maestro João Araújo.
(Apresentação
do Coral Vivace, com regência do maestro João Araújo, que interpreta os Hinos
Nacionais Brasileiro e Italiano.)
Registro
a presença do querido Secretário Roque Jacoby. Sinta-se como parte integrante
desta Mesa.
No
Hino Italiano, perguntava dove è la
vitória? Eu penso que a vitória está, exatamente, neste momento
extraordinário em que o povo de Porto Alegre, através da síntese democrática
dos seus representantes, que são os Vereadores, está homenageando os
descendentes e os italianos. E Porto Alegre se sente muito vinculada à história
italiana, porque tem como cidade-irmã Morano Calabro e esse Gemelagio foi feito na Administração
Guilherme Socias Villela e tem sido cultuado, permanentemente, pelos moradores
de Porto Alegre e que tem origem na Calábria. Mas a Calábria, com todos os
outros italianos terminam constituindo a unidade do povo italiano. Quando se
unificou a Itália, foi dito: está feita a Itália, e agora os italianos? Os
italianos estão aqui conosco, ajudaram este Rio Grande a crescer. Eu fui criado
em uma cidade de origem eminentemente italiana, que é Caxias do Sul, e sei o
quanto o italiano representou e representa para o progresso da nossa Pátria.
Mas, melhor do que eu, vai dizer, neste momento da homenagem, o Ver. Ervino
Besson, que foi o proponente, através do seu Projeto de Lei, e que agora falará
em nome das Bancadas do Partido Progressista, do PMDB e do PSB.
O SR. ERVINO BESSON: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Quero também registrar a presença
do Secretário Roque Jacoby, do Dr. Nilo Quaresma, representando a CEEE; do Sr.
Dorvalino Lunardelli, Presidente de um dos clubes mais antigos aqui da Cidade –
o Rio-Grandense; da Inês; do Padre Jaime, que está aqui com sua equipe; do Marcelo
do grupo musical “Tchê, Barbaridade”; do Dr. Humberto José Scorza, enfim,
tantas pessoas que se encontram nesta Casa para homenagear os imigrantes
italianos. E destaco aqui, também, com muito carinho, a presença do Major
Comandante da 1ª Cia. Ambiental, Flodoaldo Pereira Damasceno, que está aqui
representando a nossa querida e gloriosa Brigada Militar.
Falar
dos imigrantes italianos, creio que, para qualquer um que usasse este
microfone, seria um momento emocionante. Estou vendo aqui e registro a presença
do meu querido irmão e amigo Dep. Ciro Simoni, que está aqui representando a
Assembléia Legislativa do Estado. Mas teria muitas coisas para se falar hoje
aqui, meu caro Cônsul. Trinta por cento, hoje, dos imigrantes italianos ocupam
uma parcela da população do nosso Rio Grande. Isso representa aproximadamente
três milhões de pessoas. Sessenta e cinco a setenta por cento, hoje, da
indústria e do comércio estão nas mãos dos imigrantes italianos. Porto Alegre
tem também a sua marca. Vou citar alguns prédios: Prefeitura Municipal,
Livraria do Globo, Palácio do Vice-Governador, Igrejas Santa Terezinha, Sagrada
Família e São Geraldo e outras tantas obras arquitetônicas que nós temos aqui
na nossa Cidade.
Eu
poderia falar meia hora, uma hora, um dia, que ainda faltaria tempo. Mas eu,
neste momento, vou abandonar os papéis, porque eu vou falar um pouco da minha
história, e falando da minha história, automaticamente, eu tenho certeza de que
falarei da história de muitos de vocês, dos avós de vocês, dos familiares de
vocês.
A
maioria, acho que todos vocês, viu aquela novela “Terra Nostra”. A história
dessa novela é a história dos meus avós que vieram da Itália. Aí foram se
espalhando, por Caxias, Garibaldi, Farroupilha e pelo interior do nosso Rio
Grande, a minha família estabeleceu-se em Casca.
Mas
vejam, meus caros Vereadores e caros componentes da Mesa, nesta semana, aqui
nesta Casa e em outros locais, festeja-se – penso que tem que ser destacada – a
Semana Mundial do Meio Ambiente, festejada por aquelas pessoas que conservam o
meio ambiente.
Faz-me
lembrar da minha avó, da minha família, e da mata nativa que existia naquela
época, em grande abundância, e o cuidado que minha avó tinha, a tia Teresa –
que está aqui presente -, para com a preservação da mata nativa. O rio
Guavirova – Aírton -, aquela água cristalina, que hoje não existe mais, o
Guavirova não existe, e a minha avó, o meu falecido pai e mãe se preocupavam
com a preservação do nosso meio ambiente. É uma cultura dos italianos. E na
naquela época – como já disse – existia tanta mata nativa! Mas nós tínhamos, de
berço, trazido da Itália, pela minha avó, a preocupação com a conservação do
meio ambiente, e ela dizia: “Meus filhos, a sobrevivência da raça humana
depende de nós conservarmos o meio ambiente.”
Eu
trouxe para mostrar aos senhores, e todos conhecem esta planta. (Mostra uma
pinha.) Esta planta hoje é protegida por Lei. No nosso campo, o dia em que nós
cortamos um pinheiro para fazer a roda de um carrinho de lomba, nós recebemos
um puxão de orelhas muito forte do pai. E, na época, essa planta existia em
grande quantidade. E aqui está a pinha, que dá o pinhão.
E
hoje, que tristeza! Não existe mais sequer um pé desta planta naquela região,
que foi tão conservada pelos meus avós e pelo falecido pai.
Mas,
graças a Deus, hoje ainda temos pessoas que se preocupam com o meio ambiente,
como o Major, que faz um trabalho extraordinário – nós temos um contato semanal
com o Grupo da Brigada Militar, que é tão preocupado com a conservação do nosso
meio ambiente.
Mas,
o dia 11 de agosto de 1961, foi o dia marcante da nossa vida, porque foi o dia
em que saímos lá do interior, o dia em que nós pisamos nesta Cidade, nesta
querida cidade de Porto Alegre, que nos acolheu. Nesse dia, meu pai e minha
falecida mãe nos deram um pão e um salame. Mas, vejam vocês, saindo lá do
interior, pisando numa cidade como Porto Alegre, com esses prédios, nós fomos
na Av. José Bonifácio, 645, ao lado do Pronto Socorro, as ambulâncias à
noite... Mas o meu irmão mais velho fugiu de Porto Alegre: “Não fico mais”, e
foi embora – olhem, está aí ele. Eu fiquei ainda, mas depois os familiares
“entraram na jogada”, e ele retornou a Porto Alegre.
Então,
vejam a história de uma família, parecida com o que muitos daqui enfrentaram.
À
noite, meu irmão disse: “Tu vai lá e compra um pão.” Ele não falou em
português, mas em italiano. “Vá comprar um paneto
de pan.” Eu saí da porta, atravessei
a José Bonifácio, fui num Mercado do Bom Fim, cheguei numa banca, pedi para o
cidadão... A família era alemã, todos foram muito queridos, nos deram um apoio
extraordinário, disseram-me: “O que tu queres, meu caro moço?” Respondi no meu
dialeto: “Gaví me a pan li.” Ele não
sabia e me mostrou algo no balcão, eu olhei e disse: “Mi vui um paneto de pan.” Aí eu entendi, eu estava perdido. Aí me
mostrou que só tinha peixe. Lembro que eu olhei, virei as costas e fui embora.
“Cadê o pão?”, perguntou meu irmão em italiano. Que pão, coisa nenhuma. Sei que
acabamos comendo pão e salame.
Portanto,
eu sei que outras pessoas vão falar sobre a Itália e até fiz questão de contar
esse episódio porque conheço muitos de vocês que estão aí nas galerias, porque
vocês também devem ter tido um passado, não digo igual, mas muito parecido.
Estou vendo o pessoal da Comenda, que está nos prestigiando, o grupo de
italianos da Comenda, que faz um trabalho junto às comunidades – eu quero
saudá-los; Renor Lunardelli, que está representando aquele grupo onde
desenvolvemos os eventos daquela comunidade, que também está aqui nos
prestigiando. Quero aqui, de uma forma muito carinhosa, em meu nome, em nome da
minha família, da minha esposa, do meu filho, da minha nora, da minha neta,
saudar cada um de vocês com uma saudação muito carinhosa, muito especial, por
tudo o que vocês fizeram e, naturalmente, continuam fazendo para o
engrandecimento da nossa Pátria, da nossa Bandeira que está aqui. Do fundo da
minha alma, um abraço muito fraterno e muito carinhoso a todos. Muito obrigado.
(Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Registro a presença do Ver. Wilton
Araújo.
Saúdo
o Deputado Ciro Simoni, que representa, neste momento, a Assembléia
Legislativa; o Sr. Ive Mahe, Cônsul Honorário francês; e o italiano mais jovem
que há neste Plenário, o Sr. Biagio Sanzi, com oitenta anos, que está ali,
firme.
O
Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra, e falará em nome do PSDB.
O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente, Sr.ªs
Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais
presentes.) Meu caro amigo, Ver. Ervino Besson e família, e irmãos, e tanta
gente que, ontem, esteve lá na festa, no MARGS. Ontem o meu filho chegou feliz
em casa porque tinha encontrado o Biagio Sanzi. Gostaria de registrar, com todo
o carinho, a presença – e tenho certeza, Sr. Presidente, de que ele seria
extensão desta Mesa - do nosso Secretário de Cultura, Roque Jacoby; também
gostaria de registrar a presença do Deputado Ciro Simoni, representante da
Assembléia, também de sobrenome inconfundível; também o Presidente do Conselho
Municipal de Saúde, Humberto Giusepe Scorza.
Ainda
ouço a voz do Caetano Veloso na gravação inesquecível da trilha sonora de “O
Quatrilho”, ou, há mais de cem anos, um coral de homens e mulheres, que,
durante a sofrida viagem transatlântica de navio, rumo ao desconhecido, diziam:
“Mèrica, Mèrica, Mèrica. Cosa sarà questa
Mèrica!” Que coisa seria esta América! E chegaram, e foram se instalando no
meio da luxuriante floresta virgem da mata Atlântica, e subiram montanhas e
desbravaram e, aos poucos, foram plasmando uma sociedade progressista,
carregada de valores europeus, especialmente italianos, pela língua, pelas
expressões idiomáticas, pelos nomes das cidades, pela culinária, plasmando,
inclusive, novos dialetos ricos e musicais. À noite, não poucas vezes, a minha
avó, Margarida, tirolesa de origem, ora austríaca, ora italiana, surpreendia
meu avô, o seu marido Alberto, com quem tinha-se casado em Montevidéu
(conheceram-se no navio que recém atravessara o Atlântico, proveniente do
Vêneto (Venecia, prova provada do Renascimento); o meu avô chorava
silenciosamente a saudade de sua raiz, de sua pátria, da sua querida Itália.
Minha avó, muito mais corajosa e realista, respondia da forma mais estimulante
batendo com a mão no abdômen: “Pátria, pátria é dove se mangia!”
A
unificação da Itália fez-se às custas de um profundo desemprego, e populações
inteiras com fome deixavam a Itália com as promessas do Eldorado e da
substituição da mão-de-obra escravista pela iniciativa camponesa, da empresa de
família e a colonização imigratória. Que aperto na alma sentiam aqueles
serezinhos frágeis, indefesos, vencendo o Atlântico, a intempérie, o inóspito;
já na América desconhecida, de dia fazendo descobertas fantásticas, à noite
dormindo ao relento. E logo as primeiras casas deram um aspecto gregário, e as
primeiras picadas, as primeiras comunicações, as primeiras levas de produção já
davam idéia do que seria o nosso futuro. E hoje, já no futuro, é inevitável a
comparação. Nosso Estado, metade pampa, metade planura ao sul, até hoje ainda
semi-feudal, foi escravista, latifundiário e monocultural (ou só arroz, só
pecuária e seus derivados). Mas ao norte foi-se povoando, desenvolvendo e, do
agrário, passamos para a agroindústria rapidamente. Como na terra natal, como
na longínqua e querida Itália, os italianos viram nosso sul retroceder e o
norte do Estado manter-se e crescer em pujança. E da mescla de europeus,
especialmente italianos e alemães (entre outras etnias), marcaram a formação de
um novo país, um Brasil europeizado de progresso, de riqueza, de
auto-suficiência e pela beleza da sua gente. Diferente do norte brasileiro,
marcado pela presença do índio autóctone, do negro e do português.
E
hoje, um mundo bem menor, esse mundinho, comprova que lá, em nossas origens
étnicas, há essa mestiçagem brasileira que ainda muito dará o que falar.
Bendita
imigração que aperfeiçoou nossas relações sociais, nossa visão integrada de
mundo, nosso processo de humanização institucional!
Bendita
imigração que nos impõe a mais desenvolvimentista de todas as idéias! Bendita
imigração que nos tem feito a cada dia mais próximos, mais acessíveis, mais
autodeterminados!
É
a essência da democracia racial e da felicidade social.
É
o orgulho correndo nas veias do nosso chão, é a plena sensação de raiz, gosto
de água, cheiro de ar, toque de pele, panorama, paraíso construído pelos nossos
avós, entre eles, pelo meu avô, que chorava de saudade, mas morreu feliz e
aqui. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra
pelo PDT.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, Sr.ªs
Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais
presentes.) O Ver. Ervino Besson, Presidente, me deferiu a honra - ele poderia
tranqüilamente falar pelo PDT, na condição de autor da iniciativa - de poder
estar presente nesta tribuna. Saúdo igualmente duas figuras extraordinárias da
vida rio-grandense e oriundos dessa extraordinária comunidade de imigrantes
italianos: o Sr. Roque Jacoby, Secretário Estadual da Cultura do Rio Grande do
Sul, e o meu caro amigo e companheiro Deputado Estadual Ciro Simoni. Ele me
deferiu, Ver. Ervino Besson, essa condição, até porque, Sr. Presidente, a nossa
Bancada tem cinco integrantes do trabalhismo nesta Casa. Dizem que três são
filhos de italianos, até porque os italianos gostam muito, Sr. Cônsul, de
política, mas eu digo que são quatro. Primeiro, nós temos aqui o nosso Ver.
Ervino Besson; depois o Ver. Humberto Ciulla Goulart, também da comunidade;
temos o Ver. João Bosco Granatto Vaz, que está presente, cuja mãe tem raízes na
Itália; há um pêlo-duro puro, que é Ver. Nereu D’Avila, e eu, que sou oriundo
da comunidade judaica, também filho dos primeiros imigrantes aqui no Brasil;
faço parte da primeira geração de imigrantes, Desembargador Darós. Só que eu
tive a honra... Quando a Globo imaginou fazer uma novela cujo tema era a saga
italiana misturada com um romance com uma judia, nós aqui, no Rio Grande do
Sul, fomos precursores, a comunidade dos donos de ristorantes já me chamavam, em vez de Isaac Ainhorn, de Isaac
Agnolini, porque eu também integrava essa comunidade. Portanto, está ali o
nosso Biagio e outros para confirmar essa condição fortemente enraizada nessa
comunidade, até porque há os vínculos, esta extraordinária terra gera tanta integração,
que o Rio Grande é um verdadeiro cadinho racial. É extraordinário: eu tenho
dois cunhados italianos, um nascido na Itália, em Bologna; tenho um outro
cunhado e tenho uma sobrinha que vai casar também, contratada com um italiano.
Isso é fruto daquilo que conseguimos produzir de extraordinário neste
verdadeiro cadinho racial que é o Estado do Rio Grande do Sul.
Hoje
pela manhã, bem cedo, Presidente João Antonio Dib, eu lia uma obra de Tabajara
Ruas, e aqui a nossa homenagem, porque não há área do conhecimento, da cultura,
da produção, em que não esteja presente a comunidade italiana. A nossa
Professora Núncia sabe disso, porque é uma pesquisadora e estudiosa nessa área.
Mas, hoje pela manhã, lia, bem cedo, Ver. João Antonio Dib, a obra de Tabajara
Ruas, As Armas e os Varões Assinalados,
parodiando, Dr. Jacoby, a obra do poeta maior Luís de Camões, e lá ele iniciava
referindo dois extraordinários varões, que trouxeram, além da produção, da
garra de trabalhar nas entranhas da terra, Sr. Cônsul, também a chama da luta
revolucionária e conspirativa. Foram duas figuras extraordinárias e que criaram
a nossa história; refiro-me a Giuseppe Garibaldi, o herói de dois mundos, e a
Tito Lívio Zambicari, essa extraordinária figura que aportou em Montevidéu e,
de lá, veio para o Rio Grande; foi até agrimensor em São Leopoldo e, dali,
iniciou sua conspiração e sua luta revolucionária que redundou na Epopéia
Farroupilha.
Poderia
falar muito mais, mas aonde se vai, nos quase quinhentos Municípios no Rio
Grande do Sul, não há um neste Estado que não tenha a presença da marca do
imigrante italiano aqui na nossa terra. É Jaguari, São Borja, Santiago, São
Vicente; não há área em que não esteja presente a contribuição em todos os
ramos, sobretudo no trabalho, na luta de sol a sol e que fizeram a glória e a
grandeza deste Estado que é o Rio Grande do Sul.
Portanto,
em nome da minha Bancada, do PDT, dos meus colegas Vereadores, a nossa saudação
a essa laboriosa comunidade que tanto contribuiu, que tanto deu, cuja história
e cujas raízes remontam a uma das mais extraordinárias civilizações, que é a
romana. Essa extraordinária civilização, esse extraordinário conhecimento e
essa cultura vieram para cá na busca de novos mundos, de novas perspectivas e
aqui deram a sua decisiva contribuição para a construção do nosso Estado e do
nosso País. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O sexto integrante da Bancada do PDT,
Ver. José Fortunati, hoje Secretário de Educação do Estado, se faz representar
pela Prof.ª Maria do Carmo de Souza, que é Chefe da Divisão de Porto Alegre.
O
Ver. Wilton Araújo está com a palavra e falará em nome do PPS.
O SR. WILTON ARAÚJO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e Sr.ªs
Vereadoras. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Autoridades que
se fazem presentes hoje aqui, certamente porque a comunidade italiana tem não
só na sua odisséia de vinda, na sua odisséia de estabelecimento nesta terra, de
tantas agruras, no início, tantas dificuldades, que souberam bem transpor,
trazendo a tradição dos seus ofícios do antigo mundo, contribuindo, certamente,
para que esta terra, a terra do Rio Grande, Porto Alegre, o Brasil tenha a sua
marca, tenha o seu registro étnico, importante.
Mas,
certamente, eu, na condição de Líder do PPS, e em nome também da Ver.ª Clênia
Maranhão, que faz parte da nossa Bancada, não seria totalmente sincero com a
minha vontade e com a vontade do nosso Partido, se não registrássemos a grande,
a formosa, a maravilhosa raça. Alguns estudiosos já preconizam a inexistência
das raças como um futuro bastante promissor, onde a miscigenação possa de tal
forma proceder para que não existiriam mais raças, e que esse seria,
certamente, no futuro, o fim de todas as discriminações, de todas as coisas que
hoje ainda vemos em nosso meio.
É
exatamente esta terra que acolhe e que é transformada pela etnia e pelos
europeus que, certamente, marcada, faz com que dessa influência e da influência
de todas as outras etnias que estão aqui, junto conosco, seja a grande raça,
seja, certamente, o grande povo, seja aquele que, certamente, vai estar, no
futuro, delineado e marcado como uma nação do futuro, uma grande nação que
todos vocês estão construindo junto conosco.
Vi,
aqui, e tenho a certeza de que, na minha mistura de etnias - porque tenho
tantas que me fazem expor desta forma, mas, certamente, em algum lugar, tem
também um italiano -, tem uma raiz italiana, mas quero deixar mais claro e mais
marcado que é dessa grande mistura que nós vamos fazer a maior nação do mundo,
a nação para a qual está reservado o grande amanhã, que, eu tenho certeza, será
o Brasil. Da contribuição, da história, da vontade, da garra e da sinceridade
já foi falada. Só que há um traço do italiano, uma característica do italiano
que me chama a atenção, que é o pulsar do sangue muito forte, que é o colocar
tudo, sempre, nas coisas que faz, não só no gesticular e no falar, mas na
atitude, no conquistar. Isso chama-me a atenção no traço, e essa influência que
vocês deixam e trazem a todos nós é que faz com que eu me sinta muito bem aqui,
Ervino Besson, porque sei do coração que essa gente tem, porque fala, sente e
transmite com esse coração. Por isso, venho aqui, também, com uma tarefa - uma
tarefa do coração -, que é de citar a Carise Alessandra Besson, porque ela está
aqui - filha do Ervino Besson -, e essa homenagem dirige-se, também, do fundo
do nosso coração – dele e meu - enfim, para ti. Por um lapso - esses lapsos
acontecem quando a gente está na tribuna -, o Ervino Besson esqueceu-se de dizer
o nome dela. Ela estava chateadinha ali. Eu vim aqui com a tarefa, não de
reparar, mas de citar a sua presença. Eu contava, há pouco - Sr. Presidente,
concluindo -, que certa feita, aqui, nesta Casa, numa solenidade importante e
com um Projeto que apresentei, da Avenida Cultural Clébio Sória, que a minha
mulher tinha-me dado a idéia de fazer – eu era Presidente da Casa –, no dia da
inauguração, esqueci-me de citar a minha mulher. Até hoje pago por isso e pago
caro. Por isso eu gostaria de marcar o final do meu pronunciamento com este
coração, o coração do italiano. O grande coração que vocês nos trazem, a grande
marca é ver o mundo através do sentimento, do sentimento forte. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Registro a presença do Ver. Beto Moesch.
O
Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra e fala pelo seu Partido, o PFL.
O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Venho à tribuna, em nome do Partido
da Frente Liberal, para acrescentar, na medida do possível, o muito que já foi
dito em função da relevância da homenagem que hoje aqui se presta. Vim falar do
imigrante italiano e de seu significado na vida de Porto Alegre, do Estado e do
País. Vejam os senhores que os fatos conspiram a meu favor, facilitam minha
tarefa. Falar dos imigrantes italianos na Capital do Estado do Rio Grande do
Sul, que é governada por um descendente de italianos, Germano Rigotto; que tem
na Presidência da Assembléia Legislativa do Estado o Sr. Wilson Covati, e que
tem no seu Tribunal de Justiça o Sr. José Eugênio Tedesco, é quase que redundar
no óbvio, eis que está comprovado, da forma mais exemplar possível, o
significado e a importância que teve e que tem para a vida do Estado essa leva
de imigrantes. Eles, em determinado momento da nossa história, para aqui
acorreram, mesclando-se com aqueles que aqui já se encontravam, preparando-se
para acolher outros tantos que aqui chegariam, e formaram essa mescla que é a
figura do gaúcho, que é a figura do porto-alegrense, desta Porto Alegre criada
e constituída pelos açorianos e tanto desenvolvida pelos italianos.
Já
foi dito aqui que esta Casa como um verdadeiro sodalício popular é constituída
de pessoas de todas as origens, de todas as etnias. É comum verificarmos aqui,
e o Ver. Ervino Besson, inspirado proponente desta homenagem, já bem se recorda
disso, que a origem dos Vereadores com representação popular é muito díspar, e
que raros são aqueles como o Ver. Raul Carrion, que nasceram na cidade de Porto
Alegre. A grande maioria veio de outras plagas do Rio Grande; eu vim lá do
extremo, da fronteira oeste do Estado, quase no Uruguai, da minha Quaraí. E
muito garoto, numa área de predominância de descendentes de portugueses e de espanhóis,
lembro do primeiro gringo que conheci e que outro não era senão meu tio José
Zanini, que tinha aportado em Quaraí no início da década de 50, mesclando-se
com a minha família e iniciando o que seria a invasão italiana que os anos
seguintes haveria de propiciar. Lembro-me bem que em 54, depois de uma passagem
por Uruguaiana, onde conheci a leva de gringos provindos da rizícola instalada
no Município de Uruguaiana, junto à Barragem de São Marcos, quando aqui cheguei
em Porto Alegre, fiquei pasmo, pois aquilo que para mim era, até então, uma
figura um tanto quanto excepcional, dado o pouco número de italianos que em 50
havia em Quaraí, aqui eu encontrava em toda esquina um descendente. Aquilo,
para mim, era a figura do grande Império Romano que, a partir de Roma, havia
criado toda uma civilização responsável, inclusive, por ter transferido para o
currículo uma matéria que era o nosso suplício, que era o latim, que derivava
da velha Roma.
Aqui
em Porto Alegre, andando, fui aos poucos conhecendo os Spina, os Meneghetti, os
Rimolli, os Rositto, os Brizola, os Runardelli, os Sanci, os Scorda e tantos
outros, que transformaram essa figura que era um mito na figura do tio Zanini
em algo muito familiar e corriqueiro. Por isso me sinto muito à vontade em
poder saudá-los no dia de hoje. A evidência é absoluta a respeito do
significado da importância dos italianos na formação política, econômica e
social do Estado e também de Porto Alegre, e por isso a iniciativa do Ver.
Ervino Besson teria que ser saudada por nós liberais com assento nesta Casa,
até porque não desconhecemos que na história do nosso pensamento político as
raízes são encontradas na velha Itália.
Assim,
Sr. Presidente, prazerosamente cumpro essa responsabilidade. Saúdo os
italianos, os “oriundis”, os “natos”, os ítalo-brasileiros, dizendo-lhes com a tranqüilidade de
quem, como disse muito bem o nosso querido Ver. Wilton Araújo, no fundo tem um
pouquinho de sangue italiano, por essas mesclas que ocorrem neste País.
Digo-lhes muito obrigado por terem vindo, e muito obrigado por terem
permanecido. Sintam-se todos como o avô do Ver. Cláudio Sebenelo. Sejam felizes
nesta terra e continuem a contribuir para que este Brasil diferenciado cada vez
mais se transforme nessa multifacetada fisionomia que representa o Brasil de
todos nós. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Raul Carrion está com a palavra e
falará em nome do Partido Comunista do Brasil.
O SR. RAUL CARRION: Sr. Presidente, Sr.ªs
Vereadoras e Srs. Vereadores, Exm.º Dr. Mário Panaro, em nome de quem saúdo as
demais autoridades e personalidades já nominadas. Prezado Ver. Ervino Besson,
que em ótima hora propôs à Mesa dos trabalhos desta Casa a realização deste ato
em homenagem aos cento e vinte e oito anos do início da grande imigração
italiana para o nosso Estado, que entre 1875 e 1900 nos trouxe mais de duzentos
e cinqüenta mil súditos italianos para o Estado.
Apesar
de 1875 ser o marco da imigração italiana para o nosso Estado, é preciso dizer
que bem antes os italianos deixaram uma marca indelével no nosso Estado. Já foi
referida aqui a lembrança de dois grandes italianos: Giuseppe Garibaldi e Tito
Zambeccari, mas eu queria citar um terceiro: o grande publicista da Revolução
Farroupilha, Rossetti, editor do jornal O
Povo, em cujas páginas ficaram registrados os ideais, os combates e a luta
dos Farroupilhas.
Essa grande onda imigrantista italiana, que retirou do solo
pátrio, entre 1869 e 1962, mais de vinte milhões de italianos, precisa ser situada
no contexto histórico de então. A Itália vivia a fase final da sua unificação,
concluída em 1870. Lá, os latifúndios do Sul mantinham na miséria milhões de
camponeses pobres, sem-terra, assalariados e arrendatários. Ao norte a limitada
industrialização era incapaz de absorver os excedentes do campo. As elites
italianas começaram a ver na imigração a solução para os seus problemas
econômicos internos, e uma forma de distensionar as graves tensões sociais. Ao
mesmo tempo, a empreitada permitiria grandes lucros para as empresas de imigração e para as companhias de navegação. Para
completar, as remessas de dinheiro dos compatriotas das Américas em muito iria
contribuir para o desenvolvimento da Itália. No Brasil, a extinção do tráfico
negreiro colocava a questão da substituição da mão-de-obra escrava, e a
oligarquia latifundiária e escravista do Brasil, que havia sustentado a sua
riqueza durante três séculos em cima da mão-de-obra negra, considerava que
aqueles que haviam construído o Brasil eram incapazes para o trabalho livre. E,
também, uma visão de branqueamento franqueou as portas para a imigração dos
países europeus. A conjunção desses dois fatores impulsionou a grande imigração
italiana para o Brasil e para o Rio Grande do Sul. Aqui, os recém chegados
tiveram de enfrentar as maiores dificuldades, tendo que instalar-se nos lugares
mais distantes e agrestes, pois a colonização alemã já havia ocupado as áreas
mais próximas à Capital, sob os olhares distantes, e, de certa forma, omissos,
das autoridades italianas.
Nesse sentido eu acho interessante uma citação de uma
autoridade diplomática, de 1879, que assim se referia: “Tudo o que os
representantes reais podem fazer pelos imigrantes é indicar-lhes os locais de
trabalho que precisam de braços, encaminhá-los à benevolência dos empresários e
à proteção das autoridades para recebê-los nos hospitais, quando adoecem.
Enfim, deixá-los à competência do Estado. E se sua miséria tornar-se
turbulenta, expulsá-los com a repatriação.”
Em
uma terra escravocrata, que via o trabalho como uma desonra, os colonos
italianos vincaram a ideologia do trabalho; em uma terra da pecuária ou da
monocultura desenvolveram a policultura; em uma terra de latifúndios semearam a
pequena propriedade familiar. Deram uma enorme contribuição para a constituição
de uma pátria de homens livres. Aqui, os italianos estiveram desde o início
ligados às lutas libertárias, à Revolução Farroupilha, às grandes lutas
operárias do final do século XIX. E aqui temos que citar o tipógrafo Colombo
Leoni, editor do jornal L’Awenire, de 1892; Giovani Rossi,
editor do jornal A Luta, 1894;
Giuseppe Ferla, que dirigiu o 1.º Congresso Operário do Rio Grande do Sul, em
1898 e Luis Derivi, prestigiado dirigente da Federação Operária do Rio Grande
do Sul.
Por tudo isso, a homenagem sincera do PC d oB aos quase três milhões de descendentes italianos, que tanto engrandeceram e engrandecem o nosso Brasil e o nosso Rio Grande do Sul.
Um
dia seremos todos “cidadãos do mundo” - como dizia o grande poeta Maiakovski –
“e não mais fronteiras separarão os povos”. Nesse tempo – que espero que não
tarde – lembrarão da emigração italiana como um gesto precursor. Um grande
abraço de saudação a todos que representam esta grande imigração que tanto
contribuiu para o nosso Brasil e para o nosso Rio Grande do Sul. Muito obrigado
em nome do Partido Comunista do Brasil. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Deputado Estadual Vieira da Cunha está
representado, neste momento, pelo seu assessor Dr. José Antônio Brizola.
Registro a presença da Ver.ª Maria Celeste e, com muita satisfação, registramos
a presença do Vereador, agora Secretário Municipal de Indústria e Comércio
Adeli Sell. Sejam bem-vindos.
A Dr.ª Núncia Santoro de
Constantino, representante da comunidade de imigrantes italianos está com a
palavra.
A SRA. NÚNCIA SANTORO DE CONSTANTINO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Senhoras e senhores membros desta
comunidade e, em especial, os dois jovens Luca Motta Blota e Vicente
Constantino Kripka. Em primeiro lugar, eu quero agradecer a indicação do meu
nome, o que realmente me honra e me emociona. Honra-me porque, de certa forma,
é o reconhecimento por um estudo que venho realizando na academia já há alguns
anos, e também me emociona porque eu sou parte desta comunidade. Então, nestas
ocasiões, lembro-me dos meus, especialmente daqueles que partiram.
Vou falar de Porto Alegre, porque Porto Alegre é mais do
que um espaço urbano. Porto Alegre é um lugar, e um lugar tem um significado,
porque ele tem história. Os italianos têm uma história nesta Cidade, e é esta
relação que proponho lembrar nesta conversa, porque, na verdade, outras
relações já foram muito bem lembradas; os italianos como imigrantes do Estado
ou até mesmo no País.
Vou
começar lembrando que por grandes transformações, passavam, as cidades
brasileiras, no século XIX. Em Porto Alegre, pouco a pouco, implantavam-se
padrões culturais citadinos, influenciados por modelos europeus. Desejavam-se
cenários e personagens que fossem adequados a uma nova imagem urbana, definida
como moderna.
Crescera
o povoado formado por açorianos. O núcleo urbano logo desenvolvera-se em função
do porto fluvial, principal centro exportador de trigo. E já havia marinheiros
lígures por aqui, pois eles dominavam a navegação de cabotagem em toda a
América do Sul. Tanto estavam em Porto Alegre, que Magnoni batizava sua filha
Rafaella em 1826 na igreja matriz.
Pouco
tempo depois, haveria intensa agitação na capital da Província. Os farroupilhas
ocupavam a Cidade, muitos italianos circulavam pelas nossas estreitas ruas e
alguns até ficaram por aqui.
Assim,
desde 1840, a presença de italianos aumentava. Francioni, natural de Ancona,
batiza quatro filhos. Também batizam os seus filhos, o médico milanês Friziani,
o genovês Carlo Favaro, Giácomo de Limoni e Salvatore Sabatoni, dos Estados
Pontifícios.
Em
1845, noticia-se falecimentos de italianos residentes na Cidade e faz-se
propaganda do comércio de italianos, como é o caso do pioneiro ateliê fotográfico de Masoni.
A importância mercantil da Cidade crescia, e o sistema
ferroviário aproximaria os mercados no final do século. Em Porto Alegre,
fixou-se o principal centro industrial do Estado, com produção equivalente à de
São Paulo.
O
transporte coletivo iniciara-se em 1878, introduzidos os bondes com tração
animal. A Praça da Matriz fora embelezada com os edifícios da Câmara e do
Tribunal de Júri, junto com o Theatro São Pedro.
A
Companhia Telefônica, fundada com capitais da Província, inaugurava os
serviços, em 1886. Iluminava-se a Cidade com gás, e a rua tornava-se uma
extensão da casa mesmo à noite.
Falar
em modernidade é apontar formas de pensar e de viver. A Cidade moderna passou a
ser entendida pelos seus bulevares,
onde foi possível ver e ser visto, onde se desfrutava ambientes como cafés,
cinemas e confeitarias. Na área central, estava o principal cenário urbano, por
onde transitaram milhares de imigrantes italianos.
Por
volta de 1870, bem antes que os contingentes de colonos ocupassem lotes no
interior da Província, a presença italiana é reconhecida na Cidade, e algumas
pessoas já se destacam, exercendo atividades comerciais ou artísticas. Amoretti
tem padaria na Rua Riachuelo; Piccardo tem fábrica e loja de sombrinhas;
Cavedagni é músico e empresário de espetáculos líricos; Roberti é diretor de
sociedade musical; Grasseli é pintor; Fossati e Pittanti são conhecidos
escultores, autores da estátua do Conde de Porto Alegre, primeiro monumento
colocado na via publica porto-alegrense. Giuseppe Obino realiza a sua obra de
maior expressão, o conjunto alegórico, representando os quatro rios que
deságuam no Guaíba, estátuas femininas que rodeavam o desaparecido chafariz da
Praça da Matriz e que hoje estão na Praça Dom Sebastião, com alguns narizes e
dedos decepados.
A
guerra contra o Paraguai oportunizara bons negócios ao nosso comércio. Foi
estimular o surgimento de indústrias e fundou-se Associação Comercial, da qual
logo farão parte os comerciantes italianos: Florio possui loja de calçados,
Gianetto vende chapéus de sol, Blachi e Sesiani vendem tecidos, Ungaretti
possui loja de miudezas em geral, e todos estabelecidos na Rua dos Andradas.
Porto
Alegre crescera muito. Entre 1872 e 1920, a população quadruplicou, também como
conseqüência da imigração urbana, com predominante ingresso, no período, dos
contingentes italianos. O Cônsul Brichanteau registra que a Cidade, em 1891,
possui “cerca de seis mil habitantes italianos”, o que representava mais de 10%
da sua população.
Novas
formas para viver em cidades surgiam, a começar pelos passeios nas praças
públicas, recém aformoseadas pelos administradores. Estrangeiros iam fundando
as suas principais sociedades recreativas; polcas e valsas substituíam os
fandangos. Nos primeiros hotéis da Cidade apareciam restaurantes que criavam
novos hábitos, oferecendo bebidas e cardápios importados. Antes encontravam-se
apenas casas-de-pasto ou tavernas.
Em 1870, só havia um café
na Rua Nova. No final do século, eram inúmeros cafés, como o América, o Café
Roma, cujos proprietários são Antonello e Viale; os Cafés Guarani e o Colombo,
dos irmãos Azzarini; ou ainda o mesmo Café da Fama, na Rua Nova, que fora
adquirido por Blengini, antigo companheiro de Garibaldi. No final do século,
também as senhoras e senhoritas podiam freqüentar confeitarias, como a
Confeitaria da Alfândega, de Francesco Carlucci, saboreando especialidades ao
som da orquestra que abrilhantava as tardes porto-alegrenses.
No
Centro estava o espaço para as sociabilidades. Muito antes que uma reordenação
global da Cidade fosse iniciada, a Rua da Praia já era o nosso principal boulevard.
Mas
ainda naquela distante década de 1870, os peninsulares de Porto Alegre já se
consideravam mesmo italianos, apesar de ser então recente o “reino d’Itália”.
Acompanhavam os feitos do ressurgimento italiano e cultuavam os heróis da
pátria de origem, como Garibaldi ou como os grandes da Casa de Savóia. Fundam,
em julho de 1877, uma Sociedade que receberia o nome de “Vittorio Emanuelle
II”, em homenagem ao rei unificador, mas nomeiam Garibaldi como presidente de
honra. Fotografias comprovam a imponência da sede social, na rua Sete de
Setembro. Em estilo neoclássico, tem parte da fachada em mármore, sacadas de
ferro, nichos com esculturas e alegorias à pátria distante. Como todas as
sociedades italianas, foi lacrada durante a II Guerra, sendo sua documentação
apreendida e posteriormente perdida, talvez no incêndio da Repartição Central
de Polícia. A Vittorio nunca foi reaberta e, nos anos 70, o prédio foi demolido,
apesar do que representava para a comunidade italiana. Mas muitas outras
agremiações foram fundadas nos diferentes espaços da Cidade. É o caso da
“Principessa Elena de Montenegro”, em 1893, que logo teria sua sede própria na
Rua João Telles, onde hoje está a Sociedade Italiana do Rio Grande do Sul. Mas
o grupo italiano diversificava-se, em decorrência do enorme ingresso de
contingentes de imigrantes. Em 1884, o Cônsul Pascale Corte afirma que, entre
os “súditos”, estão representadas todas as profissões. Há médicos,
farmacêuticos, engenheiros, comerciantes. Há artistas plásticos, fotógrafos,
professores de música. Menciona cinzeladores, vendedores ambulantes, donos de
botequim, hoteleiros, carpinteiros, carroceiros. Porto Alegre então já
apresentava um esboço de modernidade. No final do século são muitas as
novidades, seja no vestuário, nas artes, ou no modo de desfrutar a vida. Era
até mesmo possível olhar vitrines iluminadas por eletricidade. Em aspectos
arquitetônicos houve radicais mudanças, a fisionomia luso-brasileira
desaparecia, cedendo espaço para o neoclássico e para o nouveau. Atraídos pelo surto de urbanização, inúmeros arquitetos,
escultores e engenheiros provenientes da Itália ingressaram na Cidade e
colocaram mãos à obra, nos primeiros templos republicanos. Valiera, os irmãos
Tomatis, que realizaram importantes projetos em arte floral ou art nouveau, como é o caso da antiga
Farmácia Carvalho; Trebbi, Fortini; Armando Boni, arquiteto construtor do
edifício da Livraria do Globo e do Palacinho, onde despacha o Vice-Governador,
dentre muitos outros o Veneziano Colfosco, responsável pelo projeto e execução
do prédio da Prefeitura Municipal.
No
pouco tempo de que disponho não poderia deixar de citar Giuseppe Gaudenzi,
responsável pelo tratamento das fachadas da Confeitaria Rocco, prédio que
também se encontra em deplorável estado de conservação.
Houve
melhoramentos como a construção do novo cais e da estação ferroviária.
Elaborou-se o primeiro plano urbanístico que transformaria o Centro na década
de 1920.
O
passeio na rua iluminada, o lazer no café, a freqüência ao cinema acabavam com
os monótonos serões noturnos. As fitas faziam furor nas telas do cine-teatro
Éden, do Apolo, do Metrópole, substituindo o cinematógrafo, curiosidade exibida
até mesmo nos circos. Degani & Cia., por exemplo, apresentara o
Cinematógrafo Parisiense na “praça de touros” que havia, onde depois esteve o
grande Teatro Coliseu, dos irmãos Petrelli, também desaparecido. Mas as salas
de projeção se multiplicariam, alcançando os mais distantes arrabaldes.
Surgiram verdadeiras redes de cinemas pertencentes a italianos. Os Faillacce,
os Sirangelo e os Grecco foram proprietários das melhores salas
cinematográficas da Cidade.
E
os peninsulares continuavam chegando. Entre 1875 e 1914, ingressaram no Rio
Grande do Sul entre oitenta e cem mil italianos, representando 60% dos novos
imigrantes. Um bom número ficava na Capital.
O
Cônsul Corte observou que os imigrantes por aqui poupavam; estava mesmo
contente porque gastava pouco com repatriamentos no Consulado Geral do Rio
Grande do Sul.
Dirigindo
o mesmo consulado em 1892, o Conde Brichanteau dava prioridade às questões
financeiras no seu relatório, enfatizando as polpudas remessas de dinheiro
enviadas por meridionais de Porto Alegre para a Itália.
De
Velutiis tem seu relatório consular publicado em 1908 e descreve as colônias
urbanas, comemorando o progresso dos imigrantes. O Cônsul observa que, na
liderança do grupo italiano, estão surgindo elementos novos, pequenos
comerciantes e pequenos industriais, sérios e empreendedores. Esclarece que há
meridionais em grande número, especialmente os calabreses de Morano Calabro.
São
principalmente os italianos meridionais que constituem a imigração italiana na
Cidade entre 1875 e 1930. Fazem parte de uma pequena burguesia, entendida como
classe de transição e trabalham por conta própria em sua oficina ou na sua loja
- não se proletarizaram - e apóiam-se no trabalho pessoal do proprietário ou de
sua família.
Os
relatórios consulares coincidem quanto às suas ocupações, destacando que poucos
trabalhavam para patrões e que a condição de imigrante, em geral, se não era
excelente, também não era desconfortável.
Quanto
ao comércio, percebe-se efetiva concentração dos italianos nos ramos de secos e
molhados, alfaiatarias, calçados, carne, agências lotéricas, massas
alimentícias, bares e cafés.
Há
fortes estabelecimentos comerciais nas ruas centrais, há grandes redes de
agências lotéricas ou de açougues, como a demonstrar possibilidades de ascensão
social que a Cidade lhes alcançava.
No
operariado, a presença passa despercebida, ao contrário do que acontecia em São
Paulo. O Cônsul De Velutiis, em 1908, escreveu que poucos trabalhavam para
patrões, que os imigrantes demonstravam capacidade de estabelecer-se por conta
própria, com oficinas ou com casas de comércio e que, em geral, prosperavam.
Houve
uma convergência entre os valores dos imigrantes e aqueles da doutrina que
inspirava os nossos governantes. Os italianos buscavam ascensão social através
do trabalho e, nesse processo, foram fundamentais as relações familiares. Entre
os italianos de Porto Alegre funcionou um sistema informal de relações com base
na estrutura familiar e no grupo étnico. A família do tipo extensivo
manteve-se, as empresas familiares predominaram entre os imigrantes. Aqui uma
maioria trabalhou em paz, desejou e alcançou a inserção social. A Capital do
Rio Grande representou uma terra de promissão para milhares de pessoas que
atravessaram o oceano. Por bem mais de cento e vinte e oito anos, os italianos
vêm auxiliando na construção de um cosmopolitismo à la gaúcha. Importantes agentes de transformação, muito trabalharam
e trabalham nesta Cidade que também é sua. Muito obrigada. (Palmas.)
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Com a palavra o Sr. Cônsul-Geral da
Itália, Dr. Mário Panaro. Mas antes
que S. Ex.ª fale, como todos os oradores em geral disseram que tem alguma
vinculação com os italianos, o Tenente Mohamad Hussein Abbas e o Ver. João
Antonio Dib também têm, pois nossos avós passaram lá, pela Itália Meridional,
e, por isso, há alguns italianos parecendo árabes.
O SR. MÁRIO PANARO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Um agradecimento especial a esta
Câmara de Vereadores, que nos honra com uma Lei que introduz o Dia do Imigrante
Italiano em Porto Alegre, uma outra festa que enriquece nosso calendário, vinte
e quatro horas de distância de outra festa da República da Itália, que
celebramos ontem no MARGS, nesse cenário surreal, onde a arte se juntou à
música para uma jóia maior. É uma Lei que representa uma peça de grande valor
em um esforço de valorizar parcerias entre autoridades locais e a comunidade
italiana em todas as suas expressões.
Permitam-me
lembrar, em primeiro lugar, com muita emoção, os colonos italianos que souberam
abrir os caminhos no Estado para permitir aos demais que chegaram depois
transitar nesta terra e passar aos outros Estados desta Federação.
A
história dos cento e vinte e oito anos da imigração já foi contada em inúmeros
livros de inúmeras formas, no entanto, enfoques mais específicos sempre podem
ser dados sobre as marcas que os imigrantes italianos deixaram na nossa cultura
gaúcha e, acima de tudo, sobre a principal característica da imigração no Rio
Grande do Sul, que é a grande síntese étnico-cultural que ela ensejou. A
imigração italiana no Rio Grande do Sul criou um novo mundo, diferente do
italiano, diferente do brasileiro; ao mesmo tempo brasileiro e italiano, um
mundo ítalo-gaúcho que se expressa na paisagem econômica, civil, arquitetônica
e cultural do Rio Grande do Sul, contribuindo para fazer deste o Estado mais
europeu do Brasil e para temperar a miscigenação brasileira com sabores
sulistas. Um mundo ítalo-gaúcho, que se manifesta também com o seu estilo de
vida, suas tradições, suas festas, onde os ingredientes das culturas
misturam-se. Unimos fé e tradicionalismo, coisas importantes para os gaúchos
que pretendem manter vivas as tradições e os costumes para as futuras gerações.
Disse,
há dias passados, o cavaleiro Romário Pacheco, que participou da 10.ª Cavalgada
da Fé ao Santuário de N. Sr.ª do Caravaggio, em Farroupilha: “Esse mundo de
integração e síntese manifesta-se também na diversidade lingüística que
caracteriza o nosso Estado e na variedade da língua portuguesa que aqui é
falada, cheia de marcas deixadas por línguas vindas da Península Itálica, entre
elas a musicalidade.”
Diversas
foram as formas de comemorar esses cento e vinte e oito anos, que têm a música
como elemento principal: dia 18 de maio no Salão de Atos da PUC; no espetáculo
Italianos na Praça, dia 20; no Palácio Piratini, no mesmo dia; durante um
concerto oferecido pela Orquestra da Universidade de Caxias; durante a abertura
da mostra fotográfica na discoteca da Casa de Cultura Mário Quintana; na
encenação da chegada dos italianos, essa linda festa no Cais do Porto, sábado
passado; dia 1.º de junho com uma apresentação do grupo teatral Miseri Coloni,
no auditório Dante Barone da Assembléia Legislativa. Ao final, uma celebração
da data nacional da Itália com esse grupo que tocou música medieval. Outros
eventos foram duas mostras de fotografia e uma de escultura, uma também sobre
genealogia, seminários, ciclo de palestras sobre história e cinema italiano,
para tocar todas as cordas da fantasia e da energia criativa porque, estamos
convencidos que esse encontro da cultura italiana, com sua criatividade,
espírito empresarial, capacidade de diálogo, alegria de viver, com a cultura
gaúcha, que expressa o mundo dos pampas, dos espaços abertos, da defesa da
autonomia, foi capaz de criar uma nova cultura, multifacetada, que lembra um
pouco as pedras duras das quais nosso Rio Grande do Sul é tão rico e que deve
sempre ser alimentada e, se possível, melhorada.
Os
ítalo-gaúchos souberam valorizar esse encontro e essa síntese cultural, não
deixando espaços para extremismos singularistas, culturais ou étnicos. A
história e a cultura dos imigrantes italianos e de seus descendentes
transformaram-se na propriedade de toda a comunidade local, regional e
nacional.
Você,
Sr. Presidente, fez uma pergunta ao começo desta nossa Sessão Solene: Dove è la vitória? Lembrando um pouco o
Hino Nacional da Itália, essa frase que está no meio do Hino, então vou tratar
de dar uma primeira possível resposta a essa pergunta:
Dove è la vitória?
A
vitória, para mim, na verdade, é ter sido Gulliver, sendo Liliput; ter feito um
esforço muito grande para que nossa comunidade pudesse abrir outras portas,
porque, acho que, para mim, a primeira descoberta, ao chegar ao Rio Grande do
Sul, foi, na verdade, essa surpresa de ver que já muitas portas estavam
abertas. Essa capacidade de poder encontrar outros projetos, outras
iniciativas, foi minha contribuição para que essa história dos colonos que
lutaram - como nos lembrou o Ver. Ervino Besson quando contava a história de
São Leopoldo e das estradas que não tinham asfalto, que só eram trilhas, que só
eram pistas. Então, esse esforço maior merecia um esforço também muito especial
e, por isso, acho que valeu a pena engajar-se nessa grande tarefa de criar
iniciativas, criar impulsos para que, nos próximos meses, possamos ter outra
matéria nobre para podermos trabalhar juntos, as autoridades do Estado que me
honraram ontem com essa carta que confirmou toda a boa intuição que eu tive, em
novembro passado, quando achei que, talvez, uma semana cultural poderia ser o
melhor complemento para comemorar esses cento e vinte e oito anos da chegada
dos italianos. Então, dove è la vitória?
A vitória está, agora, nessa mistura de jóia e de saudade, porque chegamos ao
final de uma aventura e, como a saudade não tem remédio – parece que ainda não
descobriram um tratamento –, acho que a melhor resposta contra essa doença
muito típica brasileira é seguir trabalhando para que as outras comemorações
possam contar com mais eventos, mais trabalhos e mais contribuições para nossos
imigrantes, para o povo gaúcho e para os que nos estão observando na Itália,
com muito interesse e muita curiosidade. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Dove
è la vitoria? Foi a
pergunta que eu formulei e, agora, o Sr. Cônsul, gentilmente, responde-me, mas
eu, também, havia dito que a vitória estava na homenagem que a Casa do Povo de
Porto Alegre presta a todos os descendentes de italianos e aos italianos pelos
relevantes serviços prestados à nossa Pátria. É tão verdade que este Palácio,
que se chama Aloísio Filho, leva o nome do Vereador, que eu acho
extraordinário, e que, no dia em que eu assumi a Presidência, eu disse que
procuraria espelhar-me nele. Tive o prazer e a honra de ser seu amigo e sou
feliz, porque este Palácio chama-se Palácio Aloísio Filho.
Convidamos
todos os presentes a ouvir a execução das canções “Va Pensiero”, “I Lombardi” e, após, o Hino
Rio-Grandense, que serão interpretados pelo Coral Vivace, ao qual,
antecipadamente, agradecemos por sua excelente apresentação.
(Assiste-se
à apresentação.) (Palmas.)
Na
pessoa do ilustre Cônsul-Geral da Itália, agradecemos pela presença de todas as
autoridades presentes ou representadas. Na pessoa do Biagio Sanzi, nós
agradecemos pela presença de todos os senhores e solicito que, de pé, ouçamos o
Hino Rio-Grandense cantado pelo Coral Vivace.
Após,
o Ver. Ervino Besson convida para uma confraternização. A todos, um muito
obrigado. Saúde e Paz!
(Executa-se
o Hino Rio-Grandense.)
A
todos, um muito obrigado. Saúde e Paz!
(Encerra-se
a Sessão às 21h09min.)
* * * * *